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Extremismo é improvável, dizem especialistas

Rebelde segura bandeira do Reinado da Líbia, período anterior a Kadafi | Goran Tomasevic/Reuters
Rebelde segura bandeira do Reinado da Líbia, período anterior a Kadafi (Foto: Goran Tomasevic/Reuters)

A eliminação de qualquer tipo de oposição política líbia e a natureza popular das recentes revoltas árabes lançaram uma cortina de fumaça em questões como que grupos estão por trás dos movimentos e quem sucederia o ditador Muamar Kadafi numa eventual queda. Temor declarado pe­­las potências ocidentais, a possibilidade de transformação da Líbia em uma república radical islâmica ou teocrática, nos moldes do Irã, é praticamente nula, avaliam especialistas.

"É impossível saber o que vai ocorrer, mas dá para dizer o que não vai. Pelo que se viu em todas essas revoltas até agora, não há a mínima possibilidade de ser algo semelhante ao ocorrido no Irã", afirma o professor de Relações Internacionais Reginaldo Nasser, de Pontifícia Universidade Cató­­lica de São Paulo (PUC-SP).

Há 32 anos, os iranianos saíram às ruas para colocar fim no regime do xá Reza Pahlevi, um aliado das potências ocidentais. No lugar foi estabelecida uma república islâmica de orientação antiocidental e forte natureza religiosa. Apesar da figura do presidente, quem traça as diretrizes do país é o aiatolá, reconhecido como intérprete supremo das normas divinas e legitimado para transformá-las em lei.

"Até então, na percepção das potências ocidentais, era o único modelo de revolução naquela região", diz Nasser. "Não é o que se vê agora." Persa, o Irã é majoritariamente xiita; árabe, a Líbia é de maioria sunita. São etnias e orientações religiosas distintas.

Al-Qaeda

Outro temor ocidental é o de que extremistas estejam envolvidos nas revoltas ou se aproveitando delas para ganhar influência. Mas para o professor de Relações In­­ternacionais Andrew Traumann, do Unicuritiba, tal hipótese vai por água abaixo quando se analisa a atuação da rede Al-Qaeda no Egito, por exemplo.

"O homem número 2 da Al-Qae­­da estava há 20 anos tentando derrubar o ex-ditador Hosni Mubarak. A população só precisou de 20 dias", compara. "A Al-Qaeda está literalmente perdendo o bonde da História: pensava que ia conseguir a revolução por meio da violência, e ela veio por meios democráticos."

A natureza popular das recentes revoltas, diz Reginaldo Nasser, exclui a possibilidade de "maquinação". "Países aliados e os não aliados dos Estados Unidos têm sido atingidos, como o Iêmen, por exemplo. Lá há várias bases da Al-Qaeda, e não há nenhum sinal do grupo nas manifestações".

Opressão

Na Líbia, o isolamento do país nas últimas décadas, a aniquilação de opositores do governo e o modelo tribal de organização da sociedade também dificultam as projeções do que seria um regime pós-Kadafi.

"O ditador pôs no alto comando pessoas com quem ele tem laços tribais familiares. Há um tipo de pacto de não traição nisso", afirma Traumann.

No entanto, entre os opositores, um esboço de governo já começou a ser montado a leste do país – onde o ditador exerce menos influência. De acordo com a rede de tevê catariana Al Jazira e o jornal inglês The Guardian, fa­­zem parte do grupo profissionais liberais e chefes de tribos, além dos líderes políticos e militares que abandonaram o atual regime.

"O movimento é popular", conclui Nasser. "A insatisfação econômica e social é evidente. Ninguém aguenta tanto tempo oprimido."

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Interatividade:

A queda de Muamar Kadafi seria suficiente para que a Líbia caminhasse em direção de uma democracia popular?

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