A costa banhada pelo Mar Mediterrâneo é exuberante. O interior, único: abriga o maior deserto do mundo e seus mistérios. Pela região viveram seres pré-históricos, fenícios, gregos, romanos, árabes, otomanos e europeus que lá deixaram os vestígios de suas passagens. O povo, organizado de modo distinto dos padrões ocidentais, exibe uma cultura peculiar e diversa. Líbia e Tunísia, dois dos países mais chacoalhados pela recentes revoluções árabes, têm muito mais a mostrar do que cenas de turbulência política.
Os últimos mandatários não ajudaram muito a evidenciar tal riqueza. "Assim que o Muamar Kadafi tomou o poder na Líbia, em 1969, fechou o país e acabou escondendo um lugar muito interessante", avalia o professor de História Wilson Maske, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Em território líbio, é possível encontrar desde arquitetura em art decaux italiana do século 20 a relíquias pré-históricas. "Em tempos remotos, a região que hoje abriga o Saara já foi bem mais úmida", conta Maske. "Os desenhos rupestres encontrados revelam que havia uma grande diversidade de animais e uma vegetação que não existem mais."
Renato Carneiro, que leciona História no curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, destaca a importância da região na Antiguidade. "Cartago, na Tunísia, era a maior cidade do norte da África. Tinha um poder imenso e rivalizava com Roma, que teve de produzir uma guerra extremamente dura, de anos e anos, até vencê-la."
Deste conflito, um dos vários frutos que renderam aos romanos foi a cidade de Leptis Magna. "A partir de 1920, muitos tesouros arqueológicos foram encontrados ali", cita Carneiro.
As ruínas de Leptis Magna figuram entre os locais mais visitados na Líbia até hoje.
Renata Galvão, da Geômade Turismo, que organiza viagens àqueles destinos, lista outras riquezas. Na Tunísia, o lago salgado de Chott El Jerid; as ruínas de Douga; e a região de Matmata, onde há habitações trogloditas "escavadas nas escarpas dos montes, praticamente camufladas e protegidas de frio, calor e inimigos".
Na Líbia, além de Leptis Magna, Renata Galvão ressalta a importância da cidade de Sabrahta, que por muito tempo foi ponto final das caravanas que traziam ouro, escravos, marfim e plumas de avestruz.
Abertura
O aumento do turismo, decorrente de uma eventual abertura politica dos países, é uma aposta dos especialistas, principalmente em razão da proximidade geográfica entre o norte africano e o sul da Europa. "Esse contato vai fazer com que haja uma redescoberta das riquezas e uma tentativa de preservação", conclui Maske.
O temor, aponta Carneiro, é o de que essa abertura seja precedida por uma intervenção militar dos Estados Unidos, como tem sido ameaçado. "Por mais que eles digam que fazem bombardeios cirúrgicos, não são muito preocupados em preservar os patrimônios".