Dois dias depois do maior terremoto da história recente do Peru, que atingiu 8,0 graus na escala Richter, é muito pequena a probabilidade de serem encontradas pessoas com vida entre os escombros das cidades mais afetadas, como Ica, Pisco e Chincha, informou nesta sexta-feira o vice-comandante do Corpo de Bombeiros, Roberto Ognio. Até o momento, pelo menos 369 tremores secundários foram registrados em todo o país.

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O trabalho de resgate às vítimas é difícil, especialmente nas cidades localizadas próximas ao epicentro do terremoto, onde as comunicações entraram em colapso, faltam água, luz e alimentos e o bloqueio de estradas e pontes torna demasiadamente lenta a chegada de socorro às vítimas.

- O Peru é um pais pobre, onde faltam recursos econômicos e humanos. Para se ter uma idéia, em algumas regiões os moradores tiveram que se organizar para iniciar sozinhos a limpeza dos escombros e o resgate dos feridos e dos mortos - contou por telefone o brasileiro Carlos Eugênio Barroso Pereira. - Nas áreas que ficaram completamente isoladas, nem os caixões para colocar os mortos conseguem chegar. Os corpos estão sendo enfileirados em praça pública - disse ele.

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Parte da população de Pisco, uma das cidades mais afetadas pelo terremoto, pede às autoridades ordem na distribuição de mantimentos, pois a ajuda se centraliza na Praça das Armas da cidade, e não nos bairros pobres, onde há gente desesperada por água, comida e abrigo, informou o jornal peruano "El Comercio".

Um enviado especial do periódico à cidade disse que a "ajuda chegou, mas o problema é a distribuição."

- Há uma grande desordem. As pessoas se desesperam porque não têm o que comer ou o que vestir neste momento - contou o jornalista.

Na mesma cidade, cerca de 15 mil casas desabaram ou sofreram danos graves. O comitê internacional da Cruz Vermelha colocou 80 pessoas para trabalharem na área e mais voluntários, que tentam chegar aos locais mais afetados pelo terremoto.

- Temos dificuldades logísticas. Está muito difícil - disse Giorgio Ferrario, chefe da Delegação Regional para a Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha.

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Segundo ele, o trajeto de Lima a Pisco, que normalmente leva 2 horas, aumentou para 7 horas e meia.

- A principal rua que liga as duas cidades está muito danificada. Só passam carros de resgate e ambulâncias. Mas as autoridades estão trabalhando para que ela volte a funcionar o mais rápido possível.

Ajuda humaitária

O comitê internacional se organizou para enviar pessoal de diversos países para os resgates e ajuda humanitária.

- Temos uma boa notícia: o aeroporto militar de Pisco voltou a funcionar e os aviões menores estão pousando lá. É o caso de um avião do comitê que vem da Colômbia e do Panamá nesta sexta.

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- Vamos nos reunir agora (comitê e Defesa Civil) para organizar ainda mais as nossas atividades - disse Ferrario, acrecentando que sua equipe está trabalhando com quatro ambulâncias e a Defesa Civil opera com outras diversas.

As autoridades decretaram estado de emergência nas localidades mais afetadas pelo tremor. Nos hospitais, não há médicos, enfermeiros ou remédios em número suficiente. Os feridos são atendidos no corredor dos ambulatórios, em leitos improvisados no chão. Os necrotérios também estão lotados.

Depois de visitar a região, o presidente Alan García anunciou o envio de médicos e enfermeiras para apoiar os hospitais de Cañete, Chincha, Pisco e Ica.

Contrariando todas as probabilidades, um homem foi retirado vivo dos escombros de uma igreja em Pisco, na noite de quinta-feira (horário local). Ao menos 200 corpos foram encontrados no prédio, que estava lotado de fiéis que assistiam a uma missa

- É praticamente um milagre e queria que pudéssemos encontrar outros - disse o comandante dos bombeiros Carlos Córdova, no local dos trabalhos iluminado por holofotes.

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Equipes de resgate trabalham em Pisco

- Vamos continuar procurando - disse Felipe Aguilar, que comanda os esforços de resgate do exército no povoado. - Para nós, esta é a prioridade.

Um dos piores desastres naturais do país no último século, o terremoto da última quarta-feira deixou até agora ao menos 510 mortos e 1.500 feridos.