Milhares de apoiadores do presidente deposto do Egito Mohamed Mursi desafiaram nesta sexta-feira (9) as advertências do governo instalado pelas Forças Armadas para acabar com os protestos no país, aumentando a preocupação internacional de que um confronto violento seja iminente.
Multidões reuniram-se para as orações de sexta-feira na mesquita Rabaa al-Adawiya, no nordeste do Cairo, que tornou-se uma virtual fortaleza cercada por barricadas de sacos de areia e tijolos.
"Matem o quanto quiserem. Nós não vamos sair daqui", dizia um pregador à multidão. "Esta é uma revolução. Você que está presente é quem vai tomar a decisão sobre quem vai dispersar."
O acampamento em Rabaa é talvez o ponto mais crítico da crise política provocada pela deposição pelos militares do islâmico Mursi, há cinco semanas, após enormes protestos contra o presidente.
As forças de segurança no país mais populoso do mundo árabe têm advertido os manifestantes a dispersarem pacificamente ou enfrentar uma ação.
Uma trégua não declarada parece ter dominado o feriado de Eid al-Fitr, que celebra o fim do mês de jejum muçulmano chamado Ramadã e segue até domingo. Alguns egípcios sentiram que as forças de segurança não atacariam antes do fim do feriado, o que seria considerado um sacrilégio.
Mas um diplomata de um país europeu disse que seu país estava muito preocupado com a probabilidade de violência neste fim de semana.
"É uma situação perigosa. Há uma preocupação de que as coisas possam se agravar no sábado e no domingo", disse ele à Reuters.
Em Rabaa, grupos de homens armados com paus guardam a entrada do acampamento. Um agente de trabalho de 43 anos, chamado Mohamed, disse que iria defender sua posição até que Mursi seja restituído.
"Não estamos com medo, porque estamos certos. Somos todos mártires em potencial. Aqueles que estupram os direitos das pessoas são os perdedores. Nós não nos aterrorizamos por tanques e balas", disse ele.
Apesar das palavras corajosas, as armas em exposição seriam irrelevantes perante as forças de segurança. O governo afirma, no entanto, que a Irmandade Muçulmana, o grupo de Mursi, é fortemente armada.
Quase 300 pessoas morreram nos conflitos políticos desde a derrubada de Mursi, incluindo dezenas de apoiadores do presidente deposto mortos a tiro pelas forças de segurança em dois incidentes.
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