O cônsul argentino em Nova York, Héctor Timerman, acusou nesta segunda-feira o padre Christian Von Wernich de ter participado de sessões de tortura contra seu pai, o falecido jornalista Jacobo Timerman, durante a última ditadura na Argentina (1976-83).
"Meu pai viu Von Wernich, quando era torturado", disse Timerman, ao testemunhar contra o antigo capelão da polícia, acusado de envolvimento em sete homicídios, 31 torturas e 42 seqüestros em cinco centros clandestinos de detenção na província de Buenos Aires.
"O padre nunca se aproximou para falar com meu pai. Atuou como repressor e como torturador, participou das torturas que ele sofreu", afirmou.
No tribunal da cidade de La Plata (60 km ao sul de Buenos Aires), o cônsul disse que Von Wernich agiu "como repressor e torturador" de seu pai, fundador e diretor do jornal de oposição "La Opinión", na década de 70.
Segundo o cônsul, seu pai lhe contou que durante as sessões de tortura "muitas vezes a venda caía dos olhos, devido aos choques elétricos que recebia, e ele podia ver (o então chefe de polícia de Buenos Aires, general) Ramón Camps, o médico Jorge Bergés e o padre Von Wernich".
Jacobo Timerman foi seqüestrado em sua residência em Buenos Aires no dia 15 de abril de 1977 e passou por vários centros clandestinos de detenção.
O jornalista foi acusado de ser testa-de-ferro do banqueiro David Graiver, suspeito de administrar os fundos do grupo guerrilheiro Montoneros.
Após 40 dias como "desaparecido", Timerman foi levado "oficialmente" para uma prisão de Buenos Aires, em meio à pressão internacional, antes de ser expulso do país e privado da cidadania argentina.
O jornalista voltou à Argentina após o retorno da democracia e, em 1985, depôs no histórico julgamento que condenou os líderes da ditadura.