Uma embarcação fretada retirou cerca de mil trabalhadores estrangeiros e líbios feridos de Misrata nesta segunda-feira, enquanto as forças do governo continuaram a bombardear a cidade sitiada que agora se tornou o símbolo da luta contra o governo de Muamar Kadafi.
"Queríamos poder levar mais pessoas, mas não foi possível", disse Jeremy Haslam, que liderou a missão de resgate da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
"Embora a troca de disparos tenha cessado enquanto embarcávamos... tivemos um tempo muito limitado para colocar os migrantes e os líbios a bordo do navio e partir."
Um porta-voz dos rebeldes disse que quatro civis morreram e cinco ficaram feridos pelo fogo de artilharia do governo, que bombardeou Misrata pelo quinto dia seguido nesta segunda-feira. Ele elevou o total de mortes no domingo para 25, na maioria civis, porque vários dos feridos morreram, e disse que cerca de 100 foram feridos.
Terceira maior cidade da Líbia, Misrata é o principal reduto dos rebeldes no oeste e está sob o cerco das forças pró-Kadafi há sete semanas. As pessoas que deixaram a cidade dizem que as condições no local estão se tornando cada vez mais desesperadoras e estima-se que centenas de civis morreram.
O navio Ionian Spirit saiu de Misrata levando 971 pessoas - em sua maioria imigrantes fracos e desidratados originários principalmente de Gana, das Filipinas e da Ucrânia - com destino à cidade de Benghazi, o bastião rebelde no leste da Líbia.
Foi a segunda embarcação fretada pela OIM, que retirou quase 1.200 migrantes de Misrata na última sexta-feira.
Entre o grupo resgatado havia 100 líbios, incluindo uma criança baleada no rosto, disse a OIM em comunicado.
"Temos uma janela muito, muito pequena para tirar todo mundo. Não temos o luxo de ter dias, mas horas", disse o representante da OIM para o Oriente Médio, Pasquale Lupoli.
"Cada hora conta e os imigrantes que ainda estão em Misrata não podem sobreviver mais tempo desse jeito."
As forças pró-Gaddafi também mantiveram uma ofensiva contra o posto avançado de Ajdabiyah, no leste, que os rebeldes pretendem usar para retomar o controle sobre o porto de Brega, 80 quilômetros a oeste.
Uma testemunha disse ter visto cerca de doze foguetes caírem perto da entrada oeste de Ajdabiyah no domingo e muitos combatentes fugiram enquanto as explosões atingiam a cidade.
No domingo, fez um mês que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma resolução autorizando o uso da força para proteger os civis na Líbia, levando a uma campanha aérea internacional.
Apesar dos ataques aéreos da Otan contra o Exército de Gaddafi, os rebeldes não têm conseguido reter os êxitos em semanas de confrontos que vão e vêm nas cidades costeiras do leste da Líbia.
Vários combatentes voluntários e carros civis transportando homens, mulheres e crianças saíram no domingo de Ajdabiyah rumo o leste pela rodovia costeira em direção a Benghazi, onde a revolta popular contra o governo de 41 anos de Kadafi começou no dia 17 de fevereiro.
EUA, França e Grã-Bretanha afirmaram na semana passada que não parariam de bombardear as forças de Kadafi até que ele deixasse o poder, embora não estivesse claro quando e se isso de fato ocorreria.