A França enviou às pressas tropas para a República Centro-Africana nesta sexta-feira (6), mas a violência entre milícias muçulmanas e cristãs continuava, resultando na matança disseminada de civis.

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Centenas de soldados começaram a desembarcar vindos de países vizinhos, horas depois de o governo francês receber o aval da Organização das Nações Unidas (ONU) para enviar à República Centro-Africana uma missão que estabeleça a ordem.

Tropas francesas patrulhavam as principais vias e aviões militares faziam voos em baixa altitude sobre cidades.

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Mas moradores e grupos de defesa de direitos humanos informaram que está havendo uma onda de assassinatos em bairros, mesmo depois de os grandes confrontos terem diminuído. A Cruz Vermelha afirmou ter recolhido 281 corpos em dois dias de violência na capital, Bangui, mas há muito mais pessoas que foram mortas.

A nação, ex-colônia francesa, mergulhou no caos desde que rebeldes do grupo Seleka, na maioria muçulmanos, tomaram o poder em março, o que desencadeou ataques de retaliação, já que membros da maioria cristã formaram a milícia anti-Balaka. A violência iniciada na quinta-feira foi a pior vista na capital desde o início da crise.

"Este horroroso ciclo de violência e retaliação tem de parar imediatamente", disse um porta-voz da ONU, citando casos de membros do Seleka e das milícias rivais anti-Balaka invadindo casas e matando adultos e crianças. "Os civis têm de ser protegidos."

Em Paris, o presidente francês, François Hollande, disse em um encontro de líderes africanos que a crise na República Centro-Africana provou ser uma necessidade urgente para o continente criar a sua própria força regional de segurança.

"A África tem de ser mestre de seu destino e isso significa comandar a própria segurança", disse ele.

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A França, que neste ano impediu o avanço de rebeldes ligados à Al Qaeda para a capital do Mali, Bamaco, começou a reunir um contingente de 1.200 soldados para a República Centro-Africana horas depois de obter o aval a ONU para a intervenção. A operação tem o codinome Sangaris, o mesmo de uma borboleta vermelha encontrada no país.

Bombeiros

"Nós estamos agradecidos à França, mas não é normal que seja forçada a intervir para nos salvar, como um bombeiro, 50 anos depois da independência", disse o presidente da Guiné, Alpha Condé, na conferência de Paris, pedindo a criação de uma Otan africana, referindo-se à Organização do Tratado do Atlântico Norte.

"O que está acontecendo em Bangui, logo depois do Mali, deveria nos fazer refletir, e espero que aqui... nos daremos meios para resolver conflitos na África."

No começo do ano, a França lançou uma enorme operação para desalojar combatentes ligados à rede Al Qaeda do norte do Mali. Mas o governo francês está ansioso para se distanciar do sistema de "Françafrique", pelo qual, por décadas após a independência, apoiou regimes autoritários, em troca de contratos de negócios.

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Apesar da intervenção francesa, nesta sexta-feira houve confrontos entre ex-rebeldes muçulmanos do Seleka, agora no poder no país, e uma mescla de milicianos e combatentes cristãos leais ao presidente deposto, François Bozizé, o que resultou em represálias em bairros de Bangui, com um crescente saldo de mortos.

Joanna Mariner, parte de uma equipe da Anistia Internacional em Bangui, disse ter informações sobre saques e matanças no terceiro distrito da capital. "Os franceses estão patrulhando os principais eixos, mas a cidade ainda não está segura", acrescentou.

Um correspondente da Reuters viu 26 corpos nas ruas e quintais de casas no primeiro distrito, próximo ao centro de Bangui.