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A participação no segundo turno das eleições presidenciais na França era de 75,11% três horas antes do fechamento dos últimos colégios eleitorais, um número superior ao 73,87% registrado na mesma hora no primeiro turno, realizado em 22 de abril.

O segundo turno da eleição presidencial francesa teve, até o meio-dia (7h em Brasília), uma participação ainda mais ativa de que no primeiro turno, quando quase 85% dos eleitores inscritos se apresentaram para votar, uma taxa excepcional, já que o voto não é obrigatório no país.

Segundo o Ministério do Interior, 34,11% dos eleitores franceses já votaram, uma quantidade oito pontos percentuais acima dos 26,2% dos eleitores que haviam feito sua escolha até o meio-dia na última eleição.

Os colégios eleitorais foram abertos neste domingo na França às 8h (3h de Brasília) para que 44,5 milhões de eleitores votem no segundo e definitivo turno das eleições presidenciais.

Os franceses escolherão o sucessor do presidente Jacques Chirac entre o conservador Nicolas Sarkozy - favorito nas pesquisas - e a socialista Ségolène Royal.

Ultramarinos

Um milhão de inscritos no censo, residentes nos territórios franceses de Ultramar ou em países do continente americano, já puderam votar no sábado por decisão das autoridades de Paris, e, segundo os primeiros dados de participação, compareceram às urnas mais eleitores que no primeiro turno de 22 de abril.

No Brasil, cerca de 11 mil franceses estavam inscritos, e a participação foi maior de que no primeiro turno, segundo informações preliminares do Consulado de São Paulo.

Os votos do eleitorado de ultramar serão apurados no fechamento de seus respectivos colégios, mas os resultados só serão divulgados após as 18h (15h de Brasília) de domingo, com o fechamento das urnas nos 85 mil centros de votação na França, onde deverão comparecer os 44,5 milhões de eleitores inscritos neste ano.

No Brasil, eleição francesa aconteceu no sábado e contrapõe chefs de cozinha.

Favorito

Apesar de Sarkozy aparecer como favorito nas pesquisas, a única certeza neste sábado, dia de reflexão na França, é que o sucessor de Jacques Chirac, de 74 anos, será um cinqüentão: Sarkozy tem 52 anos, e Royal, 53.

Os dois foram bem votados no primeiro turno, em 22 de abril: Sarkozy recebeu 31,18% dos votos, próximo do resultado de Valéry Giscard d'Estaing em 1974 (32,6%), e Royal, 25,87%, quase o mesmo que François Mitterrand em 1981 (25,85%).

A diferença de cinco pontos percentuais entre Sarkozy e Royal aumentou para nove pontos nas últimas duas semanas, segundo as pesquisas mais favoráveis ao conservador.

Porém, a equação da vitória depende de uma série de fatores: participação, os votos dos centristas e da extrema-direita e disciplina da extrema-esquerda.

A participação no primeiro turno foi superior a 83%, e espera-se que seja ainda maior na segunda rodada, pois tradicionalmente aumenta na última etapa.

A segunda dúvida de domingo está em saber como os 18,57% dos votos recebidos em 22 de abril pelo centrista François Bayrou serão distribuídos.

O candidato derrotado não deu indicação de voto, mas disse que não votará em Sarkozy, sem dizer, no entanto, que votará em Royal, que passou a dirigir seu discurso ao eleitorado centrista.

Outra questão em aberto é se os eleitores do ultradireitista Jean-Marie Le Pen (10,44% dos votos) o obedecerão e se absterão, apesar de as pesquisas indicarem que a maioria votará em Sarkozy.

Por último, analistas dizem que querem ver a reação da extrema-esquerda amanhã - que obteve 9% dos votos no primeiro turno -, pois é a primeira vez que seus líderes pedem votos a um candidato socialista.

Renovação

Os dois candidatos representam uma nova geração de mudança no cenário político francês. Reflexo disso é que a França escolherá entre um divorciado que se casou novamente, pai de três filhos em seus dois casamentos, e uma mãe solteira com quatro filhos com seu companheiro e líder socialista, François Hollande.

O conservador deseja fazer reformas na França, principalmente econômicas, enquanto a socialista aposta em mudanças institucionais profundas que dêem um maior peso aos cidadãos. Sarkozy quer "reabilitar o trabalho, o esforço, o mérito e o gosto pelo perigo", enquanto Royal, em seu "Pacto Presidencial", enfatiza educação, formação e inovação.

A primeira ação de quem for eleito será nomear um primeiro-ministro: no caso de Sarkozy, os mais cotados são seu conselheiro político François Fillon e os ministros de Coesão Social, Jean-Louis Borloo, e da Defesa, Michèle Alliot-Marie.

Já Royal pode escolher o ex-ministro da Economia Dominique Strauss-Kahn, o deputado Jean-Marc Ayrault e o presidente regional Michel Sapin, e chegou inclusive a ser cogitado o nome de François Bayrou, algo improvável.

Outra novidade deste ano é que um milhão e meio de franceses poderão votar nas urnas eletrônicas espalhadas por 77 municípios (cinco a menos que no primeiro), iniciativa que economiza papel e agiliza a apuração, mas que foi criticada por vários partidos.

Olhar brasileiro

Para o arquiteto brasileiro Antonio Carlos Teodoro Carvalho, radicado na França há mais de dez anos, a eleição deste domingo não é um confronto ideológico.

"Ela tem mais a ver com a clara percepção da falência do Estado e da falta de confiança no futuro. O país está endividado, com um alto déficit na seguridade social. O padrão de vida não melhora e não há emprego suficiente para todos. É com esse espírito que os franceses irão às urnas", avalia o arquiteto brasileiro.

Antonio Carlos vive na pequena cidade de Martigues, a 40 quilômetros de Marselha, no sul da França, onde Sarkozy leva vantagem na disputa. É uma região predominantemente direitista.

O que chama a atenção dele nestas eleições francesas é a mudança de geração. Saem os velhos caciques, entram novos políticos. Depois de 14 anos de François Mitterrand e Jacques Chirac, a França conheceu novos nomes, novos rostos. Em 2002, Le Pen foi para o segundo turno, alarmando os franceses, que decidiram votar em massa para eleger Chirac.

Se as pesquisas de opinião se confirmarem nas urnas, os franceses elegerão Sarkozy e continuarão à direita. "O problema é que a esquerda francesa não se reinventa. Como está, fica difícil derrotar um candidato conservador num país que há anos experimenta uma guinada à direita", conclui o brasileiro.

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