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Papa Francisco chega ara a sua audiência jubilar especial na Praça de São Pedro, no Vaticano | ANDREAS SOLARO/AFP
Papa Francisco chega ara a sua audiência jubilar especial na Praça de São Pedro, no Vaticano| Foto: ANDREAS SOLARO/AFP

Neste domingo (13) faz três anos que o argentino Jorge Mario Bergoglio se tornou o 266º papa da Igreja Católica, adotando o nome de Francisco. Desde então, o mundo é surpreendido por seus sorrisos espontâneos, sua simplicidade e seu jeito carismático de ocupar o “trono de Pedro”.

Ao longo da última semana, o jornal O Estado de S.Paulo ouviu cardeais, arcebispos, bispos, provinciais e outras autoridades católicas, com o objetivo de buscar o que seria a síntese, até agora, deste pontífice – o primeiro sul-americano a ocupar o posto – que, mesmo com tão pouco tempo à frente do Vaticano, já intermediou mudanças como a volta das relações entre os Estados Unidos e Cuba e trouxe para o centro da Igreja a preocupação com o meio ambiente, graças à encíclica Laudato Si’, publicada em junho do ano passado.

“O papa Francisco tem ajudado muita gente a se aproximar de Deus e da Igreja. Um dos fatores mais importantes é o seu testemunho fiel, a sua coerência entre o que prega e o que vive. O testemunho é fator de credibilidade. Ele ensina por meio de gestos concretos”, avalia d. Sergio da Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo metropolitano de Brasília. “Além disso, a sua ênfase na misericórdia e no acolhimento faz com que muitos se sintam carinhosamente abraçados por ele e também pela Igreja.”

O presidente da CNBB frisa a “simplicidade” e a “misericórdia” nas palavras e nos gestos de Francisco. “A simplicidade do papa Francisco, assim como a sua ênfase na misericórdia, têm repercutido bastante no modo de ser da Igreja hoje, especialmente na ação pastoral. Com a ajuda de Francisco, a Igreja tem se apresentado como Mãe misericordiosa e acolhedora, como uma casa de portas abertas”, explica o arcebispo.

Durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013, o Papa Francisco visitou o complexo de favelas de ManguinhosAniele Nascimento/Arquivo/ Gazeta do Povo

Carisma

“É difícil resumir num exemplo as mudanças promovidas pelo papa Francisco na Igreja, mas creio que a principal delas é representada pela sua própria pessoa, com seu carisma, sua capacidade de comunicação, sua simplicidade e a constante busca de autenticidade e verdade”, afirma o cardeal d. Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo. “Ele tem um jeito muito próprio e é papa desse jeito. E todos percebem facilmente essa mudança.”

Para o cardeal Scherer, Francisco “é a pessoa providencial” para este momento da História. “Ele está ajudando a Igreja a estar mais voltada para Jesus Cristo e o Evangelho”, acrescenta o purpurado.

“O papa não busca ter uma imagem popular, ele é o que é. Acostumado a viver no meio do povo, quando vivia em Buenos Aires, acostumado a ser direto nos assuntos de que trata, ele levou esse seu jeito para a Igreja”, afirma d. Murilo Sebastião Ramos Krieger, arcebispo metropolitano de Salvador e primaz do Brasil, vice-presidente da CNBB. “A resposta do povo, e não só católico, tem mostrado que todos querem isso mesmo. Com isso, todos os setores da Igreja sentem-se chamados e motivados a serem, também, mais diretos, objetivos e transparentes.”

O vice-presidente da CNBB reconhece em Francisco um papel didático: o daquele que ensina “a importância do serviço”. “A Igreja está a serviço do povo, ela o serve apresentando-lhe a palavra do Evangelho. Os cargos e títulos são para o exercício desse serviço, e não em função da própria pessoa”, contextualiza d. Murilo. “Esse serviço deve ser feito com simplicidade, indo ao encontro do povo mais distante e sofrido. Portanto, servir significa ter um espírito missionário.”

Em fevereiro de 2016, Papa Francisco visitou o MéxicoPresidencia de la República Mexicana/Fotos Públicas

Ele ri

“Há uma mudança de paradigma quando um chefe da Igreja se aproxima das pessoas e fala em seu nome e, por conseguinte, em nome de toda a instituição”, diz o provincial dos jesuítas do Brasil, padre João Renato Eidt. “Por outro lado, as pessoas se sentem reconhecidas ao saber que ele sabe como vivemos. Um papa que ri despretensiosamente com uma jovem ao falar sobre futebol, que pede insistentemente pela paz no mundo, que interfere em conflitos entre nações que estão no ‘centro’ e outras que estão nas ‘periferias’, um papa que busca aproximar igrejas por meio de ideais comuns de fraternidade e comunhão, que reconhece as ‘doenças’ dos membros da Igreja e, ao mesmo tempo, oferece ‘antibióticos’ para a cura, que beija, abraça e se aproxima dos mais simples.”

“A voz quase que solitária do papa Francisco vem denunciando uma situação de desconfiança que se instalou em meio ao mundo conturbado em que vivemos. É uma denúncia de pastor, mas com exortação de pai misericordioso, o que nos faz despertar a nós mesmos e ao outro, num gesto firme de que há esperança na humanidade”, acrescenta d. Matthias Tolentino Braga, abade do Mosteiro de São Bento de São Paulo. “Com objetivo claro e simples, mas não ingênuo, busca reunir os cristãos e os não cristãos a um ativo combate contra os males que assolam a atualidade - o terrorismo, as guerras e a indiferença.”

Papa Francisco chegando à Praça da Revolução, em Cuba, onde esteve em setembro de 2015Foto: Ismael Francisco/ Cubadebate/Fotos Públicas.

Mudança

“Destacaria [como consequência do trabalho de Francisco] a mudança na forma de a Igreja se comunicar e a passagem de uma linguagem institucional e teologicamente precisa para um discurso mais espontâneo e informal”, ressalta monsenhor Vicente Ancona Lopes, vigário-regional do Opus Dei no Brasil. “Dessa forma, o papa tem reaproximado e resgatado amplos setores da Igreja e da sociedade que eram hostis e refratários à hierarquia da Igreja e ao próprio papado.”

“(Francisco promove) uma Igreja que não se contenta em esperar que os fiéis ou não fiéis a procurem, mas que se coloca em um estado de missão, indo ao encontro das pessoas, levando-lhes a mensagem da salvação”, salienta d. Antônio Carlos Rossi Keller, bispo de Frederico Westphalen. “Trata-se de um princípio missionário, uma atitude de missão permanente que visa a sair ao encontro da humanidade enferma, marcada fortemente pelo pecado e seus devastadores efeitos, tanto no âmbito pessoal como também no social.”

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