Os países pobres e em desenvolvimento finalizaram um boicote às negociações na conferência climática das Nações Unidas nesta segunda-feira, após receberem garantias que os países ricos não estão conspirando para abrandar seus compromissos em cortar as emissões de gases poluentes, disseram funcionários europeus.
O porta-voz do Meio Ambiente da União Europeia, Andreas Carlgren, disse que as conversações informais resolveram o impasse, que começou com os países africanos, apoiados pelos grandes países emergentes, como Brasil, Índia e China. Países ricos, emergentes e pobres encontraram "uma solução razoável", ele disse. O G-77, grupo que inclui os países mais pobres mas também Brasil, Índia e China, se retirou das negociações na manhã desta segunda-feira, reclamando que os países mais industrializados tentavam acabar com o Protocolo de Kyoto, que determina que as nações ricas, não os países em desenvolvimento e os Estados Unidos, precisam cortar suas emissões de gases poluentes.
"A África puxou o cordão de emergência para evitar uma colisão no final da semana", disse Jeremy Hobbs, diretor-executivo da Oxfam International, referindo-se a um fórum na sexta-feira que terá a presença de cerca de 120 chefes de Estado. "Os países pobres querem ver um resultado que garanta fortes reduções de emissão, mas os países ricos estão tentando adiar as discussões sobre o único mecanismo que temos para isso - o Protocolo de Kyoto."
Mamadou Honadia, que faz parte da equipe negociadora de Burkina Faso, disse que o G-77 retomou as conversas com os países ricos, mas ainda está descontente que as nações mais industrializadas não tenham feito compromissos financeiros de longo prazo aos países mais pobres.
Um funcionário da delegação nigeriana disse que o principal motivo para abandonar as negociações era o baixo montante financeiro prometido pelas nações ricas. Ele disse que a oferta da União Europeia de apenas pouco mais de 7 bilhões, a curto prazo, era "patética". "Não haverá compromisso do G-77 até que nós tenhamos melhores garantias sobre transferências financeiras e de tecnologia", disse o funcionário da Nigéria.
Os países em desenvolvimento querem atualizar o Protocolo de Kyoto, que estabelece metas e punições para os países desenvolvidos, se eles não atingirem metas de cortes das emissões.
O impasse forçou o cancelamento das reuniões dos grupos de trabalho, adiando o trabalho dos negociadores que tentam resolver questões técnicas antes da chegada dos mais de 110 chefes de governo e presidentes.
Mesmo com a aparente solução, mais tarde nesta segunda-feira o representante da China criticou os países ricos. "O que eu vejo no nível das negociações é que nós sempre temos muitas dificuldades com os países desenvolvidos", disse o representante chinês.
Gore faz alerta
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, disse durante a conferência que novos dados indicam que a camada de gelo polar pode desaparecer durante o verão no prazo de cinco anos.
Durante um evento secundário lotado nesta segunda-feira, Gore apresentou dois novos relatórios sobre o assunto juntamente com os ministros de Relações Exteriores da Noruega e da Dinamarca.
O gelo no Ártico diminuiu dramaticamente, para níveis recordes de baixa, nos últimos verões. Cientistas culpam o aquecimento global, que elevou as temperaturas duas vezes mais rapidamente no norte do que em outras regiões do globo.
Gore afirmou que cientistas que estudam o polo norte disseram a ele no domingo que os últimos dados "sugerem 75% de chance de que toda a camada de gelo polar terá derretido no verão nos próximos cinco a sete anos".
Gore venceu o prêmio Nobel da Paz por seus esforços contra as mudanças climáticas.