O cerco israelense à Faixa de Gaza se aproximou, nesta segunda-feira (29), de uma invasão por terra ao território comandando pelo Hamas. Enquanto o Exército de Israel declara a área de fronteira "zona militar fechada", a milícia palestina se organiza para tentar rechaçar os ataques se inspirando no que fez o Hezbollah durante a invasão do país ao Líbano, em 2006, segundo o cientista político Azzam Tamimi.
"Tenho informações de dentro da Faixa de Gaza de que o Hamas está forte, coeso, apesar da destruição causada pelos recentes ataques. Eles estão prontos para resistir, para lutar, mesmo no caso de uma invasão", disse ele, que é diretor do Instituto Islâmico de Pensamento Político e autor do livro "Hamas a history from within" (Hamas a história vista de dentro, não publicado no Brasil).
O Exército israelense entrou no território libanês em 2006 na tentativa de atacar os milicianos do grupo radical Hezbollah, que haviam seqüestrado soldados de Israel. Após dezenas de confrontos, e depois de mais de mil mortes, foi decretado um cessar-fogo, comemorado como vitória pelo Hezbollah.
Em entrevista ao G1 por telefone, direto da Jordânia, Tamimi disse que Israel vai tentar destruir o máximo possível da Faixa de Gaza por ataques aéreos antes de invadir por terra. "Se começarem o ataque por terra, não vão conseguir vencer, pois a população vai resistir, como resistiu no Líbano", disse. Segundo ele, o que vai colaborar para isso é o fato de que os árabes estão "com raiva", tanto de Israel quanto de seus próprios governos. "Vejo isso aqui na Jordânia, no Egito, no Golfo, no Sudão, em todos os países, e isso vai fortalecer o movimento contra Israel", disse.
Apesar desta dita "coesão" do Hamas, Tamimi diz que o medo já toma conta da população que vive na Faixa de Gaza. "As pessoas estão aterrorizadas, vêem a destruição, as pessoas morrendo, ataques sem parar, mas o Hamas não está com medo, e está pronto para resistir."
Coordenação
Durante a entrevista, Tamimi disse acreditar que a ação israelense é coordenada com os interesses da Autoridade Nacional Palestina, que comanda a Cisjordânia, e com o governo do Egito.
"Israel quer destruir o Hamas e provavelmente trazer Mahmoud Abbas [presidente da ANP) de volta à Faixa de Gaza. Acredito que este ataque é coordenado com o Egito e com a ANP, que quer retomar o controle da região, e torcem por uma vitória israelense."
Segundo ele, Israel nunca quis negociar com o Hamas, que ele vê como a única possibilidade de haver paz na região. "Israel diz que está atacando Gaza em resposta a foguetes lançados pelo Hamas, mas os foguetes do Hamas já eram uma resposta a ataques e provocações israelenses", disse.
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