As primeiras tentativas de formar um novo governo grego enfrentaram um forte obstáculo na segunda-feira (7), após uma eleição que deixou questões sobre a capacidade do país de impedir a falência e permanecer na zona do euro. Gregos irritados com os termos de resgates internacionais - que provocaram cortes de salários, deixaram a taxa de desemprego em um dos maiores níveis da Europa e provocaram uma série de suicídios - desistiram dos partidos no comando na eleição de domingo (6), provocando desordem no país. O presidente Karolos Papoulias chegou a dar um mandato de três dias a Antonis Samaras para que forme uma coalizão. Ele é líder do conservador partido Nova Democracia, que conquistou a maioria na eleição. Mas logo depois Samaras informou que não teria condições de formar o governo, e desistiu do mandato. "Fizemos tudo que podíamos. Foi impossível (formar um governo). Devolvi o mandato", disse Samaras. A Coalizão de Esquerda, que ficou em segundo lugar na eleição de domingo, agora receberá a oportunidade de tentar formar uma administração. Papoulias vai se reunir com o líder do partido, Alexis Tsipras, na terça-feira, de acordo com seu gabinete. Samaras enfrentou uma série de repulsas de outros líderes que se beneficiaram do terremoto eleitoral, provocando temores em toda a zona do euro, ao se oporem à austeridade. Tanto o Nova Democracia quando o socialista PASOK foram devastados na eleição, na qual os gregos votaram contra os dois tradicionais partidos de situação, que impuseram privações econômicas em troca do resgate da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar um calote da dívida soberana. O líder da coalizão de esquerda Tsipras sarcasticamente rejeitou a oferta de aderir a um governo de unidade com Samaras. "Nós não vamos deixar entrar pela janela o que o povo grego chutou pela porta", disse, acrescentando que o resgate "não trouxe a salvação, mas causou tragédia". Tsipras disse que tentará criar um governo de esquerda, embora ele não tenha, aparentemente, a quantidade necessária de votos para isso. Autoridades do Ministério das Finanças da Grécia disseram à Reuters que o país poderá ficar sem dinheiro até o final de junho se não houver nenhum governo para negociar a nova parcela de ajuda com a UE e o FMI. Os partidos Nova Democracia e PASOK, que governaram a Grécia ao longo de décadas, terminaram a eleição sem assentos suficientes para formar um novo governo e têm que buscar uma coalizão improvável com partidos antirresgate. Mesmo antes da rejeição de Tsipras, Fotis Kouvelis, líder do moderado Partido de Esquerda Democrata que tinha sido visto como um possível aliado maleável para Samaras, disse à Reuters que não irá cooperar com o Nova Democracia e o PASOK, e sim apenas com grupos de esquerda. Outro grupo, os conservadores do partido Gregos Independentes, recusou-se a entrar em negociações com Samaras. Até mesmo o líder do PASOK, Evangelos Venizelos, que providenciou o segundo resgate à Grécia no valor de 130 bilhões de euros, disse que o pacote deve ser renegociado a fim de diminuir o fardo sobre os gregos, dividindo os cortes exigidos sob o pacote ao longo de três anos, em vez de dois. Em face do que parece ser um impasse insolúvel, uma outra eleição em poucas semanas poderia ser a única saída, aprofundando as dúvidas sobre o futuro da Grécia. Analistas expressaram profundas preocupações sobre o destino da Grécia, com o Citigroup dizendo que as chances de uma saída da zona do euro subiram para entre 50 e 75 por cento ante previsão anterior de 50 por cento. "Parece que a eleição de ontem não apenas complicou como aumentou significativamente (as preocupações) no cenário de curto prazo na Grécia", disse Gillian Edgeworth, do UniCredit. Ela disse que convocar novas eleições significaria, pelo menos, seis semanas de incerteza. PARLAMENTO FRAGMENTADO Com a contagem dos votos de domingo completa, o Novo Democracia e o PASOK ganharam pouco mais de 32 por cento dos votos e apenas 149 dos 300 assentos do Parlamento. O PASOK venceu com grande vantagem a última eleição, realizada em 2009, com 44 por cento dos votos. Esse Parlamento da Grécia será o mais fragmentado em décadas e o único caminho para uma coalizão viável parece ser ser uma revisão das regras do resgate, algo que os credores e os países do norte da Europa rejeitam firmemente. "Ou eles aderem ao programa e recebem o financiamento dos Estados-membros ou eles darão calote", afirmou uma fonte sênior da zona do euro à Reuters. "Eles devem continuar com as medidas com as quais se comprometeram nos programas", disse o ministro das Finanças da Suécia, Anders Borg. O tempo é curto para a Grécia, que deve dar a aprovação parlamentar no próximo mês para mais de 11 bilhões de euros em cortes extras de gastos para 2013 e 2014, em troca de mais ajuda para se manter solvente. (Reportagem adicional de Harry Papachristou, Deepa Babington, Dina Kyriakidou, Ingrid Melander e George Georgiopoulos)
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