Doutor analisa passageiro com um scaner térmico, que assinala o calor corporal mostrando indícios do influenza suíno, antes de deixar o aeroporto no México| Foto: Henry Romero / Reuters

Mesmo depois de tudo que os cientistas aprenderam sobre a gripe, desde a catastrófica pandemia ocorrida entre 1917 e 1919, uma coisa continua a mesma: a natureza previsivelmente imprevisível dos vírus responsáveis por ela.

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A súbita detecção do novo vírus da gripe suína, A(H1N1), ocorreu exatamente enquanto os cientistas focavam cautelosos as mudanças comportamentais observadas em outro vírus, o A(H5N1) da gripe aviária, no Egito. Virologistas rastrearam o vírus aviário desde sua descoberta em Hong Kong, no ano de 1997.

A Organização Mundial de Saúde disse, no último fim de semana, que o novo vírus da gripe suína tinha potencial para causar outra pandemia, mas não possuía instrumentos para descobrir se isso realmente aconteceria.

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A OMS e agências de saúde pública, como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, se encontram numa delicada situação, obrigados a fornecer informações sobre doenças potencialmente letais sem causar pânico.

Embora agentes de saúde tenham realizado exercícios de preparação para pandemias e epidemias causadas por bioterrorismo, eles ainda têm de dominar as habilidades de comunicação necessárias. Eles estão numa situação em que não há maneiras de ganhar.

Uma decisão sobre restrições ou alertas de viagens, por exemplo, poderia afetar o comércio e as finanças num momento de caos econômico. Se a emergência na saúde pública, declarada pela OMS e pela administração Obama, se mostrar um alarme falso, funcionários serão atacados por preocupar desnecessariamente milhões de pessoas – e talvez até por gerar medo para justificar seus orçamentos.

Se uma pandemia se materializar, alguns dos mesmos críticos muito provavelmente culparão esses funcionários por fracassar em evitá-la.

Perder ou perder

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A história ensina que o vírus da gripe entra em mutações para causar disseminação mundial cerca de duas vezes por século, em média. Todavia, os cientistas ainda precisam descobrir o agente causador das mutações, quando elas ocorrerão, e o que torna certos vírus mais letais que outros.

Epidemiologistas sabem que o número de casos relatados nos dias logo após a detecção de um novo tipo pode ser enganoso, assim como as pesquisas preliminares nas eleições políticas.

Para avaliar epidemias eles precisam, entre outras coisas, de informações precisas a respeito do número de casos; onde eles estão ocorrendo; a distribuição de idade dos infectados; e que tipo de contato eles tiveram uns com os outros. Neste estágio da investigação da gripe suína, esses dados são, de maneira geral, inexistentes.

O mais assombroso é por que as mortes reportadas ocorreram somente no México até agora (salvo o caso de um bebê mexicano nos EUA), e por que os casos confirmados em outros lugares são moderados. A disparidade não pode ser explicada por qualquer fator biológico aparente. Ela poderia, então, refletir indução nos relatos?

Por exemplo, autoridades mexicanas podem apresentar maior probabilidade de procurar a gripe suína em hospitais do que as autoridades em outros países – que podem estar focando em populações menos vulneráveis, como turistas. Em contraste, aqueles outros países podem não ter tempo para se concentrarem em mortes nos hospitais.

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Ocasionalmente, alertas acerca de um novo vírus, ou uma mutação de um vírus antigo, vêm de um laboratório. Com maior frequência, as mortes são a primeira pista.

Entretanto, as altas taxas iniciais de mortalidade muitas vezes diminuem à medida que os funcionários de saúde descobrem que o micróbio culpado também causa casos leves, até mesmo sem sintomas. Funcionários podem descobrir que a epidemia já vinha ocorrendo silenciosamente há semanas ou meses.

Espalhando-se rápido

O H1N1 parece ser facilmente transmitido de pessoa a pessoa, e relatos dos Estados Unidos sugerem que alguns casos leves podem passar sem detecção. Isso permite à doença a possibilidade de se espalhar ainda mais.

Em contraste, a gripe aviária matou 257 pessoas das 421 que a contraíram. Todavia, ela mostrou pouca habilidade em passar de pessoa para pessoa, infectando principalmente aves de criação. Alguns especialistas sugerem a existência de algo a respeito do vírus H5N1 capaz de torná-lo inerentemente menos transmissível entre pessoas.

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A Sars, sigla em inglês para Síndrome Respiratória Aguda Grave, é facilmente transmitida e virulenta. Numa epidemia de 2003, em Hong Kong, ela matou 299 das 1.755 pessoas infectadas.

Autoridades de saúde de lá estão aplicando agressivamente as lições aprendidas com a Sars. Enquanto o México luta para confirmar casos de gripe suína e envia amostras aos Estados Unidos, Hong Kong já está realizando exames genéticos rápidos em amostras de pacientes – e terá laboratórios fazendo isso em seis hospitais locais até quinta-feira.

Numa epidemia de gripe, a vigilância padrão, ou monitoramento de doenças, é crucial. Esse esforço pode determinar quantos dos casos confirmados são brandos ou fatais, pintando uma imagem mais precisa da virulência.

Como parte do exercício, epidemiologistas, virologistas e outros funcionários da saúde também entrevistaram pacientes e médicos. Eles examinam muitas amostras. O objetivo é responder a uma lista de perguntas, incluindo as seguintes:

- Se as mortes ocorrem nos estágios iniciais ou finais da infecção.

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- Se aqueles que morreram também apresentavam algumas indisposições ocultas, e quais.

- Se os pacientes infectados reagiram a medicamentos-padrão anti-gripe.

- Se eles desenvolveram infecções secundárias por bactérias, e em caso positivo, quais tipos.

- Se o período de incubação – o tempo que se leva para desenvolver sintomas após a exposição a um vírus modificado – difere daquele conhecido para vírus da gripe, geralmente de um a três dias.

- Se o novo vírus ataca principalmente indivíduos saudáveis ou tem uma predileção por pessoas com certas doenças.

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- Que porcentagem dos infectados pode ter sido protegida por vacinas anteriores contra a gripe.

Ainda é cedo demais para descobrir as respostas para o novo vírus de gripe suína. E como os cientistas bem sabem, eles já se enganaram antes.

Erros anteriores

Em 1976, após uma pequena epidemia de gripe suína em Fort Dix, Nova Jersey, funcionários da saúde pública persuadiram o presidente Gerald R. Ford e o Congresso a montar uma campanha nacional de imunização, que chegou sob duras críticas. Porém, 60 anos antes, um vírus da gripe que aparentemente começou como uma leve epidemia na primavera, voltou como um furacão alguns meses depois.

Qual modelo será seguido pelo vírus da gripe suína? Os cientistas só podem se preparar para o pior e rezar pelo melhor.

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