O tiroteio ocorrido na cidade norte-americana de Tucson, no sábado passado, fez ressurgir o espírito combativo entre republicanos e democratas. Num primeiro momento, o discurso neoconservador dos membros do Tea Party em especial da ex-governadora do Alasca Sarah Palin foi considerado o elemento motivador e inspirador da tragédia pela esquerda do país. Tanto a mídia quanto os políticos democratas, ambos indignados, denunciaram a "retórica envenenada" de alguns republicanos.
Jared Lee Loughner, o jovem de 22 anos que matou seis pessoas e atingiu a deputada democrata Gabrielle Giffords com um tiro na parte de trás da cabeça, apresenta todos os indícios de ser detentor de uma mente perturbada, incoerente e obcecada. "Jared provou, pelos indícios já apurados, que possui um discurso desorganizado. Sem dúvida, trata-se de um sujeito com algum distúrbio psiquiátrico, provavelmente uma psicose e algum outro tipo de delírio que ainda precisa ser melhor investigado", afirma Márcio Zanardini Vegas, psicanalista e mestre em Psicologia de Relações Sociais e Constituição do Sujeito.
O psicanalista defende que Jared já havia dado várias pistas de que seu comportamento errático o levaria a uma atitude mais extremada. "Caso não ocorresse agora, aconteceria em outra ocasião qualquer", diz Vegas.
Uma avaliação que reforça a tese do português Nuno Gouveia, doutorando em Ciências da Informação, com especialização em campanhas eleitorais na internet e autor do blog "Era uma Vez na América" (http://eraumaveznaamerica.blogs.sapo.pt).
Para Gouveia, as acusações contra a retórica e o discurso republicano parecem desprovidas de um sentido real, já que surgiram logo depois da tragédia, ainda sem conhecer o assassino e suas verdadeiras motivações. "Além do mais, Jared Lee é registrado como eleitor independente e nem sequer votou nas últimas eleições. Alguém que estivesse envolvido ou se identificasse com o discurso do Tea Party certamente teria ido votar contra a congressista democrata [que conseguiu a vaga na Câmara após uma vitória apertada contra o candidato republicano local]", pondera Gouveia.
Por trás das evidências
Durante o período eleitoral de 2010 Gabrielle Giffords era uma das candidatas americanas que aparecia marcada com um alvo no mapa de objetivos eleitorais postado por Sarah Palin na internet, no ano passado. Giffords seria, na opinião de Palin, um dos democratas a serem vencidos nas eleições de meio de mandato em 2010. Uma estratégia discutível, mas pertinente à linguagem eleitoral norte-americana. "O recurso adotado por Palin é um reflexo da ideologia bélica americana. É um fator sociocultural, presente tanto nas campanhas quanto nos discursos, de ambos os lados", define Márcio Zanardini Vegas.
Consequências
O tiroteio em Tucson tem também outras consequências políticas, talvez menos evidentes. Para Gilberto Rodrigues, PhD e professor de Direito Internacional da Faculdade Santa Marcelina (Fasm) e da Universidade Católica de Santos (Unisantos), o incidente ocorrido no Arizona deve trazer um novo dinamismo ao cenário político norte-americano alterado sensivelmente após a conquista da maioria das cadeiras na Câmara dos Representantes pelos republicanos, em 2010.
"Se a Casa Branca for hábil o suficiente para transformar os ataques num alerta contra os extremismos, então todos os temas caros aos democratas podem ganhar uma nova atenção do eleitor, independente do partido. Se o veto à reforma da saúde [um dos principais objetivos republicanos em 2011] for associado a uma ação extremista, prejudicial à nação, o eleitor pressionará seu representante na Câmara pela aprovação da reforma. E esse é um tipo de manobra que funciona muito bem na política americana", analisa Rodrigues.
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