Porto Príncipe - Os haitianos comparecem às urnas neste domingo para eleger seus novos governantes, que herdarão um país que o terremoto de janeiro devastou, com mais de um milhão de desabrigados e uma população ameaçada pela cólera, já sem ilusões sobre possíveis soluções oferecidas pela classe política.
Quase um ano depois do terremoto de 12 de janeiro, que matou 250 mil pessoas, o país vai escolher um dos 19 candidatos para suceder o presidente René Préval, além de designar deputados e senadores. Preval, que pela Constituição não pode tentar a reeleição, pode passar o comando do país à primeira presidente do país: Mirlande Manigat, ex-primeira-dama de 70 anos foi casada com Leslie Manigat, derrubado em 1988 em um golpe de Estado militar , que é a favorita contra o candidato do partido governista, Jude Celestin, de 48 anos.
Segundo uma pesquisa recente, Manigat venceria com 36% dos votos, contra 20% de Celestin. Um terceiro candidato, Michel Martelly, mais conhecido por seu nome artístico "Sweet Micky" e popular entre os jovens, receberia 14% dos votos. Os resultados das eleições não serão conhecidos antes do início de dezembro. Se as previsões se confirmarem, os dois candidatos favoritos nas pesquisas disputarão um segundo turno.
Mas muitos temem a possibilidade de fraudes em um país marcado pela corrupção. O diretor do registro eleitoral nacional haitiano, Philippe RJ Augustin, disse à AFP que teme "fraudes por todos os lados". Apesar do caos gerado pela cólera, que provocou a morte de mais de 1.400 pessoas desde meados de outubro, as autoridades rejeitaram um adiamento da votação.
A epidemia provocou atos de violência contra os soldados nepaleses da força da ONU, acusados por uma parte da população de terem provocado a entrada da cólera no país. As manifestações deixaram seis mortos no centro e norte do país. A campanha também foi marcada por confrontos entre simpatizantes dos diferentes candidatos, que deixaram dois mortos.
Favoritismo
Manigat, respaldada pela classes média e pelos intelectuais, pode ser beneficiada por um voto de repúdio ao partido no poder, que tem cartazes nas cores amarelo e verde com o rosto de Celestin espalhados por todo o país. "Os haitianos não querem continuísmo. Querem mudança, até mesmo uma ruptura", disse Manigat à AFP.
Celestin é considerado muito próximo ao atual presidente, mas os haitianos não parecem acreditar que o novo presidente, independentemente do vencedor, possa reconstruir o país. "Atingimos o fundo mais rápido que outros povos. Precisamos reconstruir os homens, sua visão, a maneira de aprender as coisas. Necessitamos de um novo equilíbrio em todos os níveis", disse a cantora Yole Derose, uma artista muito admirada no Haiti.
Com instituições destruídas pelo terremoto, uma classe política sem rumo e uma sociedade dividida pela miséria, a tarefa será hercúlea. "Os futuros dirigentes têm que entender que temos um país para salvar e construir juntos", declarou o padre Jean Desinor, diretor da rádio católica haitiana. Para ele, os males que abalaram o país em 2010 permitem "recomeçar sobre novas bases".
Nas ruas de Porto Príncipe, os habitantes esperam antes de mais nada conseguir um trabalho. "Queremos que o novo presidente crie empregos para colocar todas as pessoas que não fazem nada para trabalhar. Tem que abrir escolas para as crianças", disse Patrick Saint-Vil.
Diante dos cartórios, centenas de pessoas aguardam em grandes filas para retirar o documento de identificação nacional que permite o voto nas eleições de domingo.