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Eleições 2010

Haiti, um país de joelhos, elege seus novos governantes

Muro repleto de pôsteres dos candidatos à Presidência retrata a pluralidade das eleições haitianas | Kena Betancur/Reuters
Muro repleto de pôsteres dos candidatos à Presidência retrata a pluralidade das eleições haitianas (Foto: Kena Betancur/Reuters)
Veja quem são os principais candidatos à presidência do Haiti |

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Veja quem são os principais candidatos à presidência do Haiti

Porto Príncipe - Os haitianos comparecem às ur­­nas neste domingo para eleger seus novos governantes, que herdarão um país que o terremoto de janeiro devastou, com mais de um milhão de desabrigados e uma população ameaçada pela cólera, já sem ilusões sobre possíveis so­­luções oferecidas pela classe política.

Quase um ano depois do terremoto de 12 de janeiro, que matou 250 mil pessoas, o país vai escolher um dos 19 candidatos para suceder o presidente René Préval, além de designar deputados e se­­nadores. Preval, que pela Consti­­tuição não pode tentar a reeleição, pode passar o comando do país à primeira presidente do país: Mirlande Manigat, ex-primeira-dama de 70 anos – foi casada com Leslie Manigat, derrubado em 1988 em um golpe de Estado militar –, que é a favorita contra o candidato do partido governista, Jude Celestin, de 48 anos.

Segundo uma pesquisa recente, Manigat venceria com 36% dos votos, contra 20% de Celestin. Um terceiro candidato, Michel Mar­­telly, mais conhecido por seu no­­me artístico "Sweet Micky" e po­­pular entre os jovens, receberia 14% dos votos. Os resultados das eleições não serão conhecidos an­­tes do início de dezembro. Se as previsões se confirmarem, os dois candidatos favoritos nas pesquisas disputarão um segundo turno.

Mas muitos temem a possibilidade de fraudes em um país marcado pela corrupção. O diretor do registro eleitoral nacional haitiano, Philippe RJ Augustin, disse à AFP que teme "fraudes por todos os lados". Apesar do caos gerado pela cólera, que provocou a morte de mais de 1.400 pessoas desde meados de outubro, as autoridades rejeitaram um adiamento da votação.

A epidemia provocou atos de violência contra os soldados nepaleses da força da ONU, acusados por uma parte da população de terem provocado a entrada da cólera no país. As manifestações deixaram seis mortos no centro e norte do país. A campanha também foi marcada por confrontos entre simpatizantes dos diferentes candidatos, que deixaram dois mortos.

Favoritismo

Manigat, respaldada pela classes média e pelos intelectuais, pode ser beneficiada por um voto de re­­púdio ao partido no poder, que tem cartazes nas cores amarelo e verde com o rosto de Celestin es­­palhados por todo o país. "Os haitianos não querem continuísmo. Querem mudança, até mesmo uma ruptura", disse Manigat à AFP.

Celestin é considerado muito próximo ao atual presidente, mas os haitianos não parecem acreditar que o novo presidente, independentemente do vencedor, possa re­­construir o país. "Atingi­­mos o fundo mais rápido que ou­­tros povos. Precisamos reconstruir os homens, sua visão, a ma­­neira de aprender as coisas. Ne­­cessitamos de um novo equilíbrio em todos os níveis", disse a cantora Yole Derose, uma artista muito admirada no Haiti.

Com instituições destruídas pelo terremoto, uma classe política sem rumo e uma sociedade di­­vidida pela miséria, a tarefa será hercúlea. "Os futuros dirigentes têm que entender que temos um país para salvar e construir juntos", declarou o padre Jean Desi­­nor, diretor da rádio católica haitiana. Para ele, os males que abalaram o país em 2010 permitem "recomeçar sobre novas bases".

Nas ruas de Porto Príncipe, os habitantes esperam antes de mais nada conseguir um trabalho. "Que­­remos que o novo presidente crie empregos para colocar todas as pessoas que não fazem nada para trabalhar. Tem que abrir escolas para as crianças", disse Patrick Saint-Vil.

Diante dos cartórios, centenas de pessoas aguardam em grandes filas para retirar o documento de identificação nacional que permite o voto nas eleições de do­­mingo.

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