Na provável disputa presidencial americana entre Hillary Clinton e Donald Trump, os eleitores de origem hispânica já sabem em quem votar. Mais de 80% dos latinos ouvidos por uma pesquisa apoiada pela Florida International University (FIU) escolheriam Hillary numa disputa contra o magnata. Na corrida à Casa Branca, esta porção do eleitorado vem crescendo e já se tornou uma importante aposta do Partido Democrata nos últimos anos - além de protagonizar alguns dos temas mais sensíveis da política americana atual.
Após entrevistar nove mil hispânicos, a pesquisa aponta que a tendência destes eleitores em apoiar o lado democrata se repete neste ano. A opinião dos latinos que vivem no país vem sendo considerada decisiva, já que os imigrantes comparecem cada vez mais às urnas. Em 2016, os eleitores dessa minoria registrados para votar chegaram a 16 milhões em todo o território americano. O número representa um aumento de seis milhões na comparação com 2012, quando 48% dos hispânicos com direito a voto participaram das eleições.
“Basicamente, percebemos que o eleitor latino é muito relevante nos Estados Unidos e um fator-chave de decisão para o resultado das eleições. Várias pesquisadoras já se interessam em saber como eles se comportarão na votação deste ano”, diz Alberto Pardo, diretor e fundador da Admosvil, empresa de publicidade responsável pelo estudo, especializada no mercado hispânico dos EUA.
Obama consolidou preferência
Segundo o professor Eduardo Gamarra, especialista em política latino-americana da FIU, a preferência dos latinos pelos democratas despontou nas eleições de 2008. Muitos apoiaram a candidatura de Hillary e, com a desistência da ex-primeira-dama, contribuíram para a eleição de Barack Obama. Já em seu primeiro mandato, o atual presidente se provou capaz de conquistar ainda mais esses eleitores, cuja taxa de apoio ultrapassou 72% em sua reeleição de 2012. Alterar as leis de imigração e abrir caminho para a cidadania de 11 milhões de imigrantes ilegais no país foram prioridades do seu governo, apesar das dificuldades de Obama em aprovar este tipo de medida.
O histórico de adesão latina ao Partido Democrata vem acompanhado, este ano, de outro fator que favorece a candidatura de Hillary: as controversas declarações do seu provável rival nas eleições de novembro, Donald Trump. Se por um lado o magnata é o único sobrevivente na corrida republicana, por outro, ele já fez várias ofensas contra os latinos que cruzam a fronteira em busca de melhores condições de vida nos EUA, a quem chegou a acusar de narcotraficantes e agressores sexuais.
Numa de suas declarações mais polêmicas da campanha, o bilionário disse que obrigaria o México a pagar pela construção de um muro na fronteira com os EUA. Este pode ter sido um tiro no pé junto ao eleitorado latino - embora o pré-candidato já comece a baixar o tom do seu discurso. Na quinta-feira (5), Trump fez uma pequena homenagem ao dia em que se celebra no México a vitória sobre as forças francesas em 1862. Nas redes sociais, ele desejou a todos um feliz 5 de Maio e disparou: “Amo os hispânicos!”
“Em grande escala, para que Trump ganhe o voto latino, muita coisa teria que acontecer. Principalmente por causa da sua promessa de construir um muro na fronteira do México, e por sua atitude geral com a imigração. Trump fez deste o assunto número um da campanha e será por causa disso que muitos latinos não deverão votar nele”, explica Gamarra.
No entanto, a tendência favorável aos democratas não se repete homogeneamente por todo o país. Em algumas regiões, o apoio latino a Trump pode surpreender. No geral, a pesquisa da Admosvil relata que quase 19% escolheriam o republicano como presidente. E, desta parcela, quase 98% dos eleitores dizem que apoiariam o magnata justamente por causa das suas ideias sobre a imigração.
Gerações divididas
O apoio ao empresário bilionário é maior entre as camadas mais jovens de origem latina. Especialistas dizem que estes eleitores já nasceram nos EUA e, por isso, já não têm a mesma ligação com a historicamente dolorosa experiência da imigração. Segundo Gamarra, no entanto, a questão geracional nos redutos de apoio latino a Trump vai além, alcançando uma tendência histórica da imigração americana:
“Os imigrantes mais velhos se acreditam diferentes dos que chegam hoje. Dizem que são mais bem educados, que entraram legalmente e, de forma geral, são melhores. Muitos acreditam que é necessária uma forte política de imigração”, diz o professor.
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