O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, prometeu iniciar o regresso a seu paí­s nesta quinta, em uma nova tentativa de recuperar o poder depois do fracasso das negociações para solucionar a crise política| Foto: Oswaldo Rivas / Reuters

Honduras não cederá à pressão internacional pela restituição do presidente Manuel Zelaya, disseram autoridades nesta quinta-feira (23), enquanto Zelaya prepara uma nova tentativa de voltar do exílio.

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O governo formado depois do golpe militar de 28 de junho aceitou consultar o Congresso e a Suprema Corte sobre uma nova proposta que foi apresentada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, e que inclui a restituição de Zelaya na Presidência.

No entanto, uma fonte oficial jogou água fria nas expectativas de uma solução. "Não acho que a Suprema Corte ou a Procuradoria Geral ou o Congresso irão alterar seus critérios. Acho que eles irão manter sua posição contra o retorno de Manuel Zelaya ao poder", disse Mauricio Villeda, negociador do governo interino na mediação exercida por Arias.

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Zelaya disse que os esforços de Arias fracassaram e que ele mantém sua intenção de voltar da Nicarágua para Honduras pela fronteira terrestre, apesar das ameaças de prisão.

Militares hondurenhos bloquearam o avanço até a fronteira da Nicarágua de simpatizantes de Zelaya, a quem pretendem escoltar em seu retorno ao país, disse uma testemunha da Reuters. Alguns manifestantes eram camponeses da região.

Cerca de 50 militares, portando armas de combate, colocaram-se em três filas na estrada antes de Las Manos, a 10 quilômetros da fronteira com a Nicarágua, por onde o presidente deposto tinha planejado voltar a Honduras.

Governos da Europa, da América Latina e dos Estados Unidos tentam sem sucesso convencer o governo interino a recuar.

Valentin Suárez, dirigente da bancada do Partido Liberal (governista), disse que a maioria dos parlamentares votará contra a proposta de Arias.

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"O Executivo, o Judiciário e o Congresso não podem estar errados", disse Suárez. "Essa é uma recomendação louca para Honduras."

A iniciativa de destituir Zelaya partiu inicialmente da Suprema Corte, com aval do Congresso, sob a acusação de que ele violou a Constituição ao tentar uma manobra para disputar a reeleição.

Os EUA condenaram o golpe, cortaram uma ajuda militar de 16,5 milhões de dólares e ameaçam reduzir também a ajuda econômica. Zelaya pede que Washington imponha sanções rígidas contra os indivíduos que lideraram o golpe e aderiram ao governo provisório.

Mas alguns parlamentares republicanos dizem que o governo de Barack Obama já fez muito por Zelaya, que é malvisto pela elite hondurenha devido à sua aproximação com o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Sem acusações

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Zelaya pretende viajar na quinta-feira de Manágua para a localidade de Esteli, no trajeto para pequenas cidades que ficam próximas à fronteira com Honduras. Alegando razões de segurança, ele evitou dizer por que ponto da fronteira pretende voltar a seu país.

Sobre a possibilidade de resistir à prisão, disse que não poderia prever o que vai acontecer.

"Isso vai se dar quando eu estiver aí (...). Não há acusações, não há veredicto contra mim", disse Zelaya, que foi preso pelo Exército no meio da noite e tirado de pijama do país.

Dias depois, o Exército impediu seu avião de pousar em Tegucigalpa, e um manifestante pró-Zelaya foi morto em confronto com as forças de segurança. O governo interino garante que prenderá Zelaya se ele tentar voltar ao país.

Caravana

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Uma caravana partiu nesta quinta-feira (23) da capital da Nicarágua, com o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, que fará uma nova tentativa de regressar ao país. O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, disse que prenderá Zelaya se ele voltar a Honduras.

A partir de Manágua, Zelaya disse ao canal argentino de televisão a cabo Todo Noticias que "medo eu não tenho, mas sei que existem riscos e fui ameaçado pelo golpista Romeo Vásquez Velásquez. O general Velásquez comanda o Estado-Maior Conjunto do Exército de Honduras.

Zelaya esclareceu que não planeja voltar imediatamente a Honduras. "Acredito que estaremos na fronteira no sábado ou no domingo, porque iremos devagar, para chegar com um forte contingente de hondurenhos ao nosso lado", ele disse ao canal argentino.

"Quando ele voltar a Honduras, teremos que executar a ordem de prisão", disse Lorena Calix, a porta-voz da polícia nacional de Honduras.

Enquanto prepara a volta, Zelaya instalará um "posto de comando" na cidade nicaraguense de Estelí, 100 quilômetros ao norte de Manágua, onde será avaliada a maneira mais conveniente de entrar em Honduras, disse Allan Fajardo, um dos funcionários do governo hondurenho defenestrado.

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Após tomar conhecimento na noite de quarta-feira sobre o fracasso da mediação do presidente de Costa Rica, Oscar Arias, que tentava restituí-lo ao cargo, Zelaya anunciou sua volta a Honduras acompanhado por sua esposa, filhos, um grupo de aliados políticos e jornalistas.

Esta é a segunda tentativa de Zelaya voltar a Honduras. Afastado da presidência por um golpe de estado em 28 de junho, ele tentou voltar em 5 de julho a Tegucigalpa, vindo de Washington em um avião de matrícula venezuelana. O avião não obteve permissão para pousar no aeroporto da capital hondurenha.

A Suprema Corte de Honduras ordenou a prisão de Zelaya antes do golpe do dia 28, acusando o então mandatário no cargo de querer aprovar um referendo que se vitorioso permitiria a reeleição de políticos aos cargos públicos, o que segundo os magistrados violaria a Constituição do país.

Se detido, Zelaya enfrentará quatro acusações, de violar ordens do governo, traição, abuso e usurpação do poder. As acusações podem render 43 anos de cadeia.

Passos para retorno

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Zelaya e Fajardo não informaram o ponto exato onde pretendem cruzar a fronteira.

Os possíveis passos terrestres da Nicarágua para Honduras são Guasaule, na província de Chinandega, 126 quilômetros ao oeste de Manágua; ou então El Espino e Las Manos, ambos em Madriz, a 150 e 185 quilômetros ao norte da capital da Nicarágua, respectivamente.

Mas Fajardo não descartou que Zelaya use um avião para viajar a El Salvador ou à Guatemala, ou navegar na costa caribenha para alcançar Honduras. Zelaya disse que regressará sem armas.

Apoio internacional

Na falta de um acordo que resolva o impasse político, o presidente da Bolívia, Evo Morales, disse nesta quinta-feira que só a renúncia do governo interino evitará que Honduras mergulhe numa guerra civil. A presidente do Chile, Michelle Bachelet, disse que é preciso "evitar um derramamento de sangue em Honduras" e pediu à Organização dos Estados Americanos (OEA) que cumpra com as diretrizes aprovadas na assembleia geral da entidade, para que a nação centro-americana "recupere a democracia".

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Zelaya disse que pediu ao chefe do Estado-Maior Conjunto, o general Velásquez, que ordene aos soldados que "baixem os fuzis" quando ele chegar à fronteira. Zelaya responsabilizou Velásquez por qualquer violência que ele possa sofrer. As informações são da Associated Press

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