Os manifestantes da Tailândia contrários ao governo se puseram na defensiva na sexta-feira, um dia depois da desajeitada ocupação de um hospital que gerou dúvidas sobre os rumos do movimento, numa crise que já dura dois meses e deixou 27 mortos.
Os líderes dos chamados "camisas vermelhas" pediram desculpas depois de mais de 200 ativistas terem invadido o Hospital Universitário Chulalongkorn, na noite de quinta-feira (manhã do mesmo dia no Brasil), à procura de soldados que eles acusavam de preparar ataques. Alguns pacientes tiveram de ser retirados.
Sem encontrar nenhum soldado, os manifestantes, alguns armados com pedaços de pau, deixaram o hospital cerca de uma hora depois, após causarem muita confusão nos jardins, no saguão e no estacionamento. Alguns deles queriam voltar na sexta-feira para outra busca, mas os líderes dos "camisas vermelhas" impediram.
"Realmente pedimos desculpas por qualquer inconveniente causado. Alguns (manifestantes) estavam muito preocupados que o hospital estivesse abrigando tropas", disse o líder Weng Tojirakarn, admitindo que alguns de seus companheiros têm uma "atitude de caubói" que prejudica a imagem do movimento, muito mal visto pela classe média e pelas elites de Bangcoc.
Os "camisas vermelhas", em geral com raízes nas províncias rurais do norte tailandês, são seguidores do ex-premiê Thaksin Shinawatra. Eles exigem a renúncia do atual governo, com a convocação de novas eleições. Milhares estão acampados num elegante bairro comercial da capital.
Na quarta-feira, as forças de segurança impediram os manifestantes de realizarem "comícios móveis" fora do acampamento fortificado de 3 quilômetros quadrados onde eles se concentram.
Pouco a pouco, o local vai virando uma "cidade dentro da cidade", agravando uma crise que, caso se mantenha pelo resto do ano, poderá reduzir em 2 pontos percentuais o crescimento do PIB, segundo o ministro das Finanças, Korn Chatikavanij.
A Bolsa local tem manifestado confiança na economia, a segunda maior do Sudeste Asiático, mas admite que os investidores estrangeiros estão muito cautelosos, vendendo 264 milhões de dólares em ações nos últimos seis dias úteis. Isso está fazendo o baht ter a sua maior desvalorização semanal desde janeiro.
A invasão do hospital gerou preocupações a respeito do controle dos líderes sobre o movimento, ou sobre a disciplina que eles podem impor aos seus seguranças.
Além disso, o incidente também pode voltar a opinião pública contra os "camisas vermelhas", algo que o premiê Abhisit Vejjajiva intuiu imediatamente. "Acho que não preciso condenar isso. Acho que não só a sociedade tailandesa como a comunidade internacional já condenaram", disse ele pela TV.
O jornal Thaipost criticou em sua manchete os manifestantes "maus", e alguns moradores acham que o protesto foi longe demais. "Eles foram audaciosos e bandidos demais. Foi além do aceitável", disse Tana Pariyapan, 36 anos, que trabalha em um escritório.