Hugo Chávez foi proclamado oficialmente na terça-feira como presidente reeleito da Venezuela, após ter conquistado nas urnas um novo mandato de seis anos com forte apoio dos setores mais pobres da população à sua "revolução socialista".
Durante a cerimônia, membros do Conselho Nacional Eleitoral entregaram ao atual presidente os documentos que oficializam sua vitória na eleição de domingo, quando recebeu 62,89% dos votos válidos. A missão de observadores da União Européia concluiu que as eleições foram confiáveis.
Ele já pediu à oposição que abrace a "revolução".
Chávez, no poder desde 1999 e um crítico ácido dos Estados Unidos, prometeu aprofundar sua "revolução'', baseada num arsenal de planos sociais.
O presidente reassumirá o cargo no dia 2 de fevereiro.
Hugo Chávez, que dedicou a sua reeleição ao líder cubano Fidel Castro, disse que usaria sua forte maioria para intensificar sua "revolução socialista" que já incluiu confiscos de terra, impostos mais altos às empresas estrangeiras e a tomada do controle pelo Estado de projetos privados de exploração de petróleo.
- Nós dedicamos esta vitória ao povo cubano e a Fidel Castro, meu irmão e camarada. Mandamos um abraço a Fidel e aos nossos irmãos em Cuba que apóiam nossa causa - disse Chávez.
A Casa Branca parabenizou na segunda-feira o povo venezuelano por seu "comprometimento com o processo democrático", mas não mencionou a reeleição de Hugo Chávez, inimigo declarado do presidente americano George W. Bush.
- Acreditamos que todos os venezuelanos devem ter o direito de participar em eleições livres e justas sem temer intimidação ou retaliação, e os próprios venezuelanos é que são responsáveis por escolher seus líderes - disse Kate Starr, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
- Os Estados Unidos continuam comprometidos com o povo venezuelano e apoiamos seu desejo por um futuro democrático - disse Starr. - Vamos continuar a buscar um relacionamento construtivo com o governo venezuelano em áreas de interesse mútuo.
Chávez, que disse a simpatizantes no domingo que sua vitória esmagadora é um golpe no governo Bush, se vangloria de sua relação próxima com Fidel Castro e costuma ser visto como seu herdeiro no comando da esquerda latino-americana. Em sua campanha, porém, Chávez disse que não busca estabelecer um sistema cubano, rebatendo acusações de Washington e da oposição de que ele teria essa intenção.
Ele insistiu em afirmar que, durante oito anos no poder, defendeu a iniciativa privada, permitiu a existência de uma imprensa de oposição e presidiu num sistema em que os partidos políticos são livres.
Chávez e seus seguidores costumam vestir-se de vermelho e argumentam que apenas quem for leal à revolução pode trabalhar no Exército ou na estatal de petróleo PDVSA. Como Castro, ele quer que sua revolução seja liderada por um partido único, mas, diferentemente do cubano, o líder venezuelano promete tolerar oposição. O uso de guarda-costas cubanos por Chávez também alimenta queixas de que Fidel tem influência demais sobre o governo de Caracas.
Luis Guerra, um professor de história que caminhava no centro de Caracas, apoiou Chávez na eleição e defendeu a venda de petróleo com desconto para Cuba. Segundo ele, os médicos cubanos que a Venezuela recebe em troca faz enorme diferença para a vida dos pobres.
- Nas favelas, você pode agora chamar um médico cubano a qualquer hora da noite - afirmou. - Você nunca conseguiria um antes.
Vitória folgada
Hugo Chávez qualificou a sua vitória como incomparável na história do país, e assegurou que, segundo dados de sua equipe de campanha, seu partido Movimento Quinta República (MVR) venceu em todas as regiões do país. Seu opositor, Manuel Rosales, prontamente reconheceu a sua vitória, mas sugeriu que a diferença de votos recebida por ambos os candidatos era inferior à mostrada pelos primeiros dados anunciados pela autoridade eleitoral.
Pesquisas de boca-de-urna realizadas na Venezuela por uma companhia petrolífera ligada ao governo confirmaram sondagens pré-eleitorais que indicavam a vitória do presidente Hugo Chávez no pleito presidencial deste domingo. De acordo com a Evans/McDonough, Chávez venceria com 58% dos votos, contra 40% de Manuel Rosales. Em um levantamento da mesma companhia divulgado em 29 de novembro, Chávez tinha 57% das intenções de voto, contra 38% de seu oponente. A pesquisa foi paga por uma filial da petrolífera estatal PDVSA. Já a oposição afirma que o governo está difundindo números falsos sobre a vitória de Chávez.
Os candidatos Hugo Chávez e Manuel Rosales votaram em Caracas e Maracaibo, respectivamente, e mostraram-se satisfeitos com a participação do eleitorado e o clima de paz na eleição.
Chávez aproveitou os abundantes recursos do petróleo para conquistar o apoio dos setores mais pobres da população com planos sociais considerados ineficientes pela oposição. O ex-pára-quedista de 52 anos, que já sobreviveu a crises políticas e até a uma tentativa de golpe, arrebanhou aliados na América Latina, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente argentino, Néstor Kirchner, mesmo eles não compartilhando a mesma fúria de Chávez com relação às políticas do americano George W. Bush. Chávez afirmou que, se vencer, estudará uma reforma constitucional que permita a reeleição ilimitada para cargos públicos.
Rosales, por sua vez, conseguiu reunir a fragmentada oposição venezuelana com um discurso populista que se concentrou principalmente em ataques à insegurança, ao desemprego e à política de vender petróleo a preços diferenciados para aliados como Cuba.