Os peruanos foram às urnas neste domingo para participar de uma eleição que promete ser uma das mais disputadas do país.
Os resultados oficiais, com a apuração de 52,7% dos votos válidos, dão ao candidato nacionalista Ollanta Humala 27,80% dos votos, seguido pela conservadora Lourdes Flores, com 26,32% e pelo ex-presidente Alan García, com 25,60%.
Estes dados indicam que Flores e García deverão esperar a apuração de 100% dos votos para saber com certeza quem disputará com Humala o segundo turno da eleição.
Os resultados definitivos oficiais das eleições presidenciais e legislativas realizadas no domingo no Peru só serão conhecidos em cerca de 20 dias, informou nesta segunda-feira o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (Onpe, na sigla em espanhol).
A chefe do órgão, Magdalena Chu, afirmou que os resultados finais só serão divulgados quando chegarem a Lima todas as atas de votação, incluídas as das localidades mais remotas, e quando tiverem sido resolvidas as impugnações.
Chu destacou que a Onpe não dá projeções, mas oferece resultados parciais baseados nas atas e não em uma amostragem.
Segundo pesquisa de boca-de-urna, o candidato nacionalista Ollanta Humala teve 29,6% dos votos no primeiro turno. O resultado indica a necessidade do segundo turno e o adversário de Humala ainda não está definido. Alan Garcia teve 24,5% dos votos e Lourdes Flores, 24,2%, caracterizando um empate técnico.
O candidato nacionalista, Ollanta Humala , um ex-comandante do Exército, apoiado pelo presidente venezuelano, Hugo Chavez, lidera as pesquisas de intenção de votos. Humala é candidato pelo movimento União pelo Peru. Ele prometeu jamais esquecer dos pobres, nacionalizar os recursos naturais do país, reduzir o salário do presidente da República, reformar a Constituição e transformar cidades como Arequipa, no sul do país, em potências exportadoras.
Sua principal adversária é Lourdes Flores , candidata da direita-liberal, que prega a austeridade fiscal e menos intervenção do governo na economia. Entre suas propostas está uma revolução agroindustrial, concederá créditos aos pequenos e médios empresários e implementará um abrangente programa de ajuda social.
Já o ex-presidente e candidato pelo tradicional Partido Aprista Peruano, Alan García , que em seu primeiro governo (1985-1990) enfrentou uma inflação de 2.700%, assegurou que duplicará o salário dos professores, reduzirá o preço do gás e da água, construirá estradas e exigirá o cumprimento da jornada de oito horas de trabalho. Tanto Humala como García defendem a necessidade de rever os contratos assinados com empresas multinacionais, proposta descartada por Flores, que pretende apenas exigir o cumprimento dos contratos já selados.
Humala representa um projeto revolucionário, como o próprio candidato costuma dizer. Flores pretende fazer um governo que certamente dará continuidade ao que foi construído por Toledo, talvez com maior sensibilidade social, mas sempre muito vinculado aos setores mais poderosos do país. Um eventual segundo governo de García significaria uma mudança, certamente não tão drástica como a que representa Humala, mas na visão de alguns analistas locais também poderia ameaçar a estabilidade econômica conquistada nos últimos anos.
A classe média teme perder o poder de consumo alcançado caso Humala ou García sejam eleitos e espera que Flores seja garantia de estabilidade. Os setores mais humildes, cansados dos partidos tradicionais, de escandalosos casos de corrupção e de tanta pobreza acreditam que Humala seria uma espécie de salvador dos pobres. Os seguidores de García, candidato do único partido com forte presença nacional, acreditam que o ex-presidente é a melhor opção para o Peru. Três caminhos, o mesmo país .
O novo presidente que receberá do atual chefe de Estado, Alejandro Toledo, um país com uma economia saudável, porém, que ainda arrasta uma taxa de pobreza superior a 50% da população. No ano passado, a economia peruana cresceu 6,7% e nos cinco anos de gestão de Toledo, o PIB acumulou crescimento de 21%. A bonança econômica, no entanto, não se derramou e os pobres continuam tão pobres como antes.
Com este pano de fundo, os 16 milhões de eleitores do país deverão decidir qual dos candidatos que disputam a Presidência tem um projeto de governo capaz de resolver o dilema peruano : como crescer e, ao mesmo tempo, reduzir drasticamente a pobreza.
De acordo com dados do Ministério da Economia do Peru, entre 2001 e 2004, a taxa de pobreza recuou levemente, caindo de 54,3% para 51,6%. A taxa de indigência (pessoas que não têm recursos para satisfazer suas necessidades básicas de alimentação) passou de 24,1% para 19,2%. No mesmo período, as exportações do país aumentaram 44% e os investimentos privados subiram mais de 25%. No ano passado, a inflação foi de apenas 1,5%. Atualmente, as reservas do Banco Central do Peru atingem cerca de US$ 12 bilhões.