O ex-comandante do Exército e esquerdista Ollanta Humala venceu a eleição presidencial no Peru e prometeu que os pobres vão compartilhar a nova riqueza do país, mas os mercados financeiros despencaram temendo que ele arruíne a economia.
A parlamentar de direita Keiko Fujimori, filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori, admitiu a derrota na segunda-feira depois que a apuração de mais de 90 por cento das urnas apontou para uma liderança de Humala por 2,7 pontos porcentuais.
O mercado de ações do Peru despencou mais de 12,5 por cento, a maior perda da história, antes de as negociações serem suspensas até terça-feira. A moeda sol caiu 1,24 por cento, o que levou o Banco Central a vender 215 milhões de dólares em títulos para conter a queda.
Humala abandonou algumas das suas propostas mais radicais depois de ter perdido a eleição por uma pequena margem em 2006. Seus conselheiros tentaram garantir aos mercados na segunda-feira que ele vai dirigir a economia de maneira prudente, mas vários investidores simplesmente não confiam no novo presidente.
Ações de empresas mineradoras caíram até 15 por cento, já que Humala disse que quer impor um imposto sobre o vasto setor de mineração peruano. Grandes empresas do vizinho Chile que têm subsidiárias no Peru também viram as suas ações despencarem com o resultado da votação, assim como os títulos soberanos do país em Nova York.
Os investidores temem que Humala, que assume no dia 28 de julho, aumente a presença e o controle do Estado na economia que cresce rapidamente e que ele abandone a disciplina fiscal.
Eles estão ansiosamente esperando as escolhas do presidente para ministro das Finanças e chefe do Banco Central. As nomeações vão indicar se ele vai adotar políticas moderadas ou se vai pressionar para mudanças radicais. Não está claro quando Humala vai anunciar os escolhidos.
Kurt Burneo, um dos principais assessores econômicos de Humala e ex-funcionário do Ministério das Finanças e do Banco Central, está sendo apontado como um possível ministro no novo governo. Ele disse que os investidores vendendo ações e ativos peruanos vão se arrepender.
'Aqueles que estão especulando agora vão simplesmente perder dinheiro. Tudo está muito sólido', disse Burneo para a Reuters.
Ele disse que Humala garantiu a política fiscal contra-cíclica, que vai respeitar a independência do Banco Central assim como os investimentos feitos pelas empresas privadas e vai reduzir a relação da dívida com o Produto Interno Bruto do país, atualmente em 22 por cento.
O Peru é um grande exportador de metais e tem uma das economias que cresceu em ritmo mais rápido na última década, mas um terço da sua população vive na pobreza e Humala prometeu espalhar os benefícios do boom econômico.
'INCLUSÃO SOCIAL'
'Nós queremos crescimento econômico com inclusão social', disse Humala, de 48 anos, para os milhares de simpatizantes em comício no centro de Lima na madrugada de segunda-feira. 'Nós podemos construir um Peru mais justo para todos.'
Milhares de pessoas dançaram em júbilo, cantando 'Humala Presidente!' e 'Fujimori nunca mais.'
Depois de perder as eleições de 2006, Humala diminuiu as suas políticas anticapitalistas para tentar conquistar os votos do centro.
Ele prometeu ter um orçamento balanceado, trazer experientes tecnocratas para o seu governo e respeitar investidores estrangeiros que planejam investir 40 bilhões de dólares em projetos extrativistas no Peru na próxima década.
Humala também quer dar aos pobres uma fatia maior da riqueza oriunda dos recursos naturais peruanos e acabar com os conflitos sociais causados pelos minerais e petróleo.
Outro dos principais assessores econômicos de Humala, Felix Jimenez, que é apontado como possível chefe do Banco Central, insistiu que os investidores não têm o que temer.
'As nossas propostas econômicas são totalmente sensatas: manter o equilíbrio macroeconômico, consolidar o crescimento e criar condições para que os investimentos domésticos e estrangeiros privados cresçam', disse à Reuters.
Keiko, de 36 anos, era a favorita dos empresários, mas muitos eleitores a rejeitaram por conta da sentença de 25 anos contra o seu pai por corrupção e pela utilização de esquadrões da morte para reprimir suspeitos de envolvimento com a esquerda quando ele foi presidente nos anos 1990.
Humala, que quando era comandante do Exército tentou uma revolta malsucedida contra Alberto Fujimori em 2000, atacou a sua rival por ter trabalhado no governo autoritário de seu pai.
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