| Foto: Francisco Batista/ Presidencia de Venezuela (/

A organização americana Human Rights Watch (HRW) denunciou nesta segunda-feira execuções extrajudiciais e detenções arbitrárias na Venezuela em operações das forças policiais e militares para combater o crime.

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Em mais de cem operações contra o crime realizadas desde agosto de 2015, 245 pessoas teriam morrido, segundo números oficiais divulgados pela HRW e pela organização venezuelana Provea no relatório “Poder sem Limites”.

Desses, “documentamos 20 casos, onde as evidências sugerem que se tratam de execuções extrajudiciais”, afirmou o diretor dessa ONG para as Américas, José Miguel Vivanco.

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Funcionários venezuelanos afirmaram que as mortes ocorreram por confrontos entre delinquentes e forças de segurança durante as operações, realizadas principalmente em zonas populares.

Segundo Vivanco, além da “enorme desproporcionalidade” entre supostos criminosos e policiais mortos (3), os relatos de familiares e de testemunhas “nos permitem chegar à conclusão de que a versão oficial não é confiável”.

“O governo da Venezuela tomou a decisão de enfrentar o crime de uma maneira não democrática”, denunciou o coordenador-geral da Provea, Rafael Uzcátegui, durante uma coletiva de imprensa conjunta em Washington.

Uzcátegui denunciou a “militarização do exercício da segurança dos cidadãos aprofundada pelo governo de Nicolás Maduro”, ressaltando que essa prática contraria as recomendações de organismos internacionais e da Constituição venezuelana.

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Segundo números do Ministério Público obtidos pela Provea, cerca de 25 funcionários de segurança são investigados por irregularidades.

O relatório de cerca de 50 páginas informa sobre outras violações dos direitos humanos nestas operações, realizadas no âmbito da Operação de Libertação e Proteção do Povo (OLP). A OLP é uma iniciativa do governo Nicolás Maduro para combater a onda de violência e de insegurança na Venezuela. Caracas defendeu o plano, mas prometeu investigar as denúncias.

As organizações denunciaram a apreensão arbitrária de mais de 14.000 pessoas, das quais menos de uma centena foi formalmente processada por algum crime.

Em especial na zona fronteiriça com a Colômbia, 1.700 migrantes colombianos foram deportados para seu país: 400 deles tinham “status” de refugiados, ou se declararam vítimas de perseguição de paramilitares.

A HRW e a Provea também verificaram a destruição de 976 residências em quatro estados da Venezuela, sem aviso prévio, depois que as forças de segurança abateram, ou detiveram, os supostos criminosos.

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“Nunca vimos uma coisa dessa natureza nem na Venezuela, nem em nenhum outro local da América Latina”, afirmou Vivanco.

Segundo as organizações, o panorama de abusos é possível devido a um contexto geral de “impunidade estrutural”, de militarização das funções de segurança, de falhas nas instituições de controle e da “opacidade” dos organismos públicos na Venezuela. As ONGs alegam que as operações não parecem estar reduzindo os índices de criminalidade.

“Depois dessas operações, o Estado volta a estar ausente. Não há um plano (...) que permita reduzir níveis de violência”, disse Inti Rodríguez, de Provea.

Em audiência na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) nesta segunda-feira, em Washington, o embaixador venezuelano Bernardo Álvarez preferiu não se pronunciar sobre as denúncias específicas do relatório, mas admitiu a possibilidade de ocorrência, nas operações de segurança, de “procedimentos irregulares de diferentes naturezas”. “É previso ver o que aconteceu caso a caso”, afirmou.

Larry Devoe, do Conselho Nacional de Direitos Humanos, um órgão do governo, lembrou que as OLPs foram criadas para “devolver a paz” a territórios controlados pelo crime organizado.

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Um dos países sem conflito bélico mais violentos do mundo, a Venezuela encerrou o ano de 2015 com uma taxa de 58 homicídios a cada 100 mil habitantes (17.778 pessoas mortas), ainda segundo o Ministério Público.