A marcha de indígenas bolivianos em defesa de uma reserva amazônica chegou a 10 quilômetros do povoado de camponeses aliados de Evo Morales, que na tentativa de impedir o protesto, bloquearam sua caminhada até a capital La Paz, neste sábado (17).
O presidente da Confederação de Povos Indígenas da Bolívia (Cidob), Adolfo Chávez, confirmou que os ativistas se aproximaram de Yucumo, região dos camponeses e produtores de coca partidários do presidente, que cavaram trincheiras na intenção de frear a passagem dos ativistas, contando com o auxílio de 450 policiais.
Os indígenas defendem o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis) da construção de uma estrada que dividirá o parque em dois. Eles temem que a área de 1,2 milhões de hectares possa ser invadida por cultivadores de coca.
Financiada pelo Brasil, a estrada unirá a zona cocaleira de Charpare, onde estão os sindicatos camponeses liderados por Morales, com o departamento amazônico de Beni.
O dirigente da tribo chiquitana Ignacio Macoyo explicou para a rádio "Erbol" que três grupos indígenas programaram sua partida para segunda-feira. De acordo com ele, isso não significa uma divisão do movimento, mas uma decisão de logística, porque ali não há água para todos os 1,5 mil membros da passeata.
"Na próxima segunda-feira todos estaremos juntos para poder atravessar as barreiras impostas pelo Governo, uma de policiais e outra dos camponeses", disse Macoyo sobre a intenção de atravessar Yucumo.
O escritório antidrogas da ONU (UNODC) informou na segunda-feira que desde 2006, quando Morales chegou ao poder, as plantações de coca aumentam 22% na Bolívia, passando de 25,4 mil a 31 mil hectares, quase três vezes mais do que o permitido por lei para usos tradicionais como o "acullicu" (mastigado). A UNODC também informou que o cultivo se expande em parques naturais como o Tipnis.
Morales defendeu o projeto da estrada novamente neste sábado, antes de partir em viagem para Venezuela, Cuba e Nova York, onde participará da Assembleia das Nações Unidas.
O líder, que se reuniu nesta sexta-feira com dissidentes do protesto no Tipnis, disse que muitos indígenas estão escapando da marcha para "não serem instrumento da direita e do império" e destacou o apoio de seus opositores ao movimento, caracterizando a marcha como uma manifestação política, e não apenas social e ecológica.
O Conselho Nacional de Ayllus e Markas do Qullasuyu (Conamaq), que representa a etnia aimará e tem participantes na passeata, convocou o bloqueio das estradas da região a partir da próxima semana para aumentar a pressão contra o Governo.