Acordar às 4h30 em Barcelona. Às 5h, tomar o ônibus ao aeroporto. Chegar às 5h30 e decolar às 7h. Contando com o fuso horário, sentar-se no escritório em Londres às 9h30 e iniciar o trabalho. No fim do dia, fazer o trajeto inverso e voltar para a casa às 23h.
Essa é, uma vez por semana, a rotina de Sam Cookney, 32. Esse especialista em mídias sociais concluiu recentemente que era mais barato viver na Espanha e fazer uma frequente ponte área com o Reino Unido do que pagar o aluguel em Londres.
A curiosa história de Cookney tornou-se notícia em jornais britânicos e espanhóis na última semana. O caso tocou em um assunto sensível especialmente para aqueles que estão saturados com os altos -- e crescentes -- custos de vida na capital britânica.
Em Londres, Cookney pagava o equivalente a R$ 3.800 ao mês para dividir um apartamento com outra pessoa. Em Barcelona, paga R$ 3.200 para viver sozinho na região central. Comparando os gastos com transporte, incluindo o aéreo, ele diz que seria possível economizar cerca de R$ 1.500 mensais.
Essas contas são contestadas, por exemplo, em comentários publicados nas reportagens sobre a tática de Cookney, e os custos dependem de fatores que incluem a região de moradia e o estilo de vida em cada cidade.
“Muitas pessoas me dizem o quão frustradas estão com viver em Londres e pagar aluguéis astronômicos em apartamentos ruins”, diz Cookney em entrevista. “Acho que muitas pessoas pensam em mudar-se, e parece que eu transformei esse estilo de vida em uma opção viável a alguns deles.”
Drinques e livros
Apesar de inicialmente ter calculado os custos para fazer o trajeto de segunda a quinta-feira, Cookney passa a maior parte da semana em Barcelona, trabalhando de casa. Quando precisa fazer o bate-volta a Londres, não se incomoda com o esforço.
“Durmo feliz no avião de manhã, e tomo um drinque e leio um livro no caminho de volta. Se isso significa que eu posso morar em Barcelona, vale a pena”, diz o viajante.
Vale o esforço, afirma, inclusive quando tem de recusar convites a festas e eventos porque precisa correr e pegar não o último ônibus, mas o último avião de volta a casa. “Tento ver meus amigos quando estou em Londres, e tenho uma ótima vida em Barcelona’, diz.
Cookney, aliás, não está sozinho nessa linha de pensamento. Uma pesquisa recente divulgada por Tessa Jowell, que pretende concorrer à Prefeitura de Londres, chega à mesma conclusão. Nesse caso, no entanto, o cálculo foi feito em relação a Madri, e não a Barcelona.
O levantamento aponta que um trabalhador em Liverpool Street gasta R$ 11.800 por mês entre aluguel e transporte. Em Madri, o custo seria de R$ 9.500, incluindo voos diários entre as cidades entre segunda e quinta-feira. Uma opção não tão tentadora, é claro, para quem tem medo de avião.