O Panamá Papers também chegou ao Brasil e à Operação Lava Jato. A investigação publicada no jornal O Estado de S. Paulo mostra que a Mossack Fonseca criou 107 offshores para pelo menos 57 pessoas ou empresas ligadas às denúncias de corrupção na Petrobras. De acordo com o jornal, várias delas são desconhecidas dos investigadores brasileiros, que deflagraram a 22ª Fase da Operação em um escritório da Mossack Fonseca, quando suspeitavam que a empresa teria ajudado a ocultar a identidade dos verdadeiros donos do triplex do Guarujá, que supostamente pertence ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Algumas das informações coletadas pelos jornalistas corroboram informações já dadas em delações premiadas ao longo da Operação. De acordo com o jornal, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o senador Edison Lobão (PMDB-MA) e o deputado Milton de Oliveira Lyra Filho (PTB-AL) estariam envolvidos no esquema.
Lobão foi citado na delação de Nestor Cerveró, que afirmou ter recebido ordens para não modificar um investimento da Petros - fundo de pensão da estatal no banco BVA. O banco pertence a um amigo de Lobão, José Augusto Ferreira dos Santos. A reportagem do Estadão mostra que Ferreira abriu uma offshore e uma conta da Suíça em parceria do João Henriques, apontado como operador do PMDB no esquema de desvio de dinheiro público. De acordo com o jornal, esta informação não era de conhecimento da força-tarefa da Lava Jato. A offshore foi incorporada em Panamá em 2011 por intermédio da empresa de David Muino, que atuou na abertura de contas na Suíça para Henriques e para Eduardo Cunha, de acordo com o jornal.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha também seria dono de uma offshore com conta da Suíça, onde as propinas cobradas pelo deputado seriam depositadas. Os documentos da Mossack Fonseca mostram a existência da offshore, Punbur Holdings, que seria de propriedade do deputado, que negou ao jornal ser dono da empresa. O empresário português Idalécio de Oliveira, que seria a origem da propina paga à Cunha, abriu uma empresa nas Ilhas Virgens Britânicas meses antes de fechar negócio com a Petrobras na venda do campo de Benin.
De acordo com a reportagem, o deputado Lyra Filho seria beneficiário da offshore Venilson Corp., aberta pela empresa panamenha e usada para abrir uma conta na Alemanha. Ainda de acordo com o jornal, a conta teria sido encerrada meses depois, após a tentativa de movimentar altas quantias de dinheiro não declarado. Lyra negou ao jornal a movimentação financeira, mas afirmou não ter declarado a offshore às autoridades brasileiras. O deputado ficou conhecido no final do ano passado, quando um bilhete apreendido na casa do então chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (Sem Partido - MS), Diogo Ferreira, falava do pagamento de propina de R$ 45 milhões à Lyra Filho. O deputado nega.
Empreiteiras
A investigação jornalística também mostra empreiteiras ligadas à panamenha Mossack Fonseca. De acordo com o Estadão, a empresa atuou para quatro empreiteiras citadas na Lava Jato - Odebrecht, Mendes Júnior, Schahin e Queiroz Galvão. O sócio-controlador da empreiteira, Carlos Queiroz Galvão, teria comprado duas offshores da empresa mesmo depois da deflagração da Operação Lava Jato no Brasil. A Odebrecht também teria usado os serviços da Mossack Fonseca para abrir offshores no exterior usadas para abrir contas na Suíça, diz o Estadão.
Carlos Eduardo Schahin, sobrinho do presidente do grupo, Milton Schahin, já foi condenado em 1ª Instância por manter uma offshore não declarada. De acordo com o jornal, Schahin também teve outra offshore adquirida por intermédio da empresa panamenha em 1996. A Mendes Júnior também adquiriu uma offshore nas Bahamas da Mossack Fonseca em 1997. Todas negam irregularidades.