Irritado com as críticas da União Europeia ao modo como lidou com os protestos pós-eleição, o governo do Irã acusou nesta quarta-feira o bloco de se intrometer em seus assuntos e exigiu um pedido de desculpas antes de retomar qualquer conversação sobre o controvertido programa nuclear iraniano.
O principal comandante militar do Irã impôs a condição em meio a contínuas recriminações sobre a eleição presidencial de 12 de junho, na qual o conservador Mahmoud Ahmadinejad foi reeleito, derrotando rivais que insistem que a eleição foi fraudada para beneficiá-lo.
"Por causa da interferência deste grupo (a UE) nos distúrbios depois da eleição... eles perderam qualificação para manter conversações sobre questões nucleares com o Irã", disse o general Hassan Firouzabadi, segundo a agência semioficial de notícias Fars.
Três potências da UE -- Grã-Bretanha, França e Alemanha -- mantiveram negociações com o Irã sobre suas atividades nucleares, que o Ocidente suspeita tenham como objetivo a produção de bombas atômicas. O Irã diz que o programa é integralmente pacífico.
"Antes de pedirem desculpas por seu grande erro.. eles não têm nenhum direito de falar em negociações nucleares", disse Firouzabadi.
Junto com os Estados Unidos, Rússia e China, as nações do bloco europeu ofereceram ao Irã um pacote de incentivos econômicos, entre outras vantagens, em troca de sua desistência de enriquecer urânio -- um processo de produção de combustível utilizado em usinas de energia elétrica, mas também com potencial de uso na fabricação de bombas atômicas.
O Irã rejeitou a exigência, dizendo ter o direito de enriquecer urânio, já que é signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
O governo do presidente dos EUA, Barack Obama, demonstrou interesse em se juntar às negociações, mas os tumultos pós-eleitorais obscureceram as perspectivas de qualquer envolvimento norte-americano com o Irã.
Os ultraconservadores iranianos, que consolidaram seu controle do poder depois que as forças de segurança suprimiram os protestos de rua, culparam as potências estrangeiras pelas manifestações, as mais graves desde a Revolução Islâmica, de 1979.
Ahmadinejad cancela viagem
Ahmadinejad cancelou viagem à Líbia, onde participaria da cúpula da União Africana, encontro que lhe daria nova oportunidade de aparecer em um ambiente internacional potencialmente amigável.
Seu gabinete não deu explicações para a decisão, mas um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores afirmou depois que Ahmadinejad está ocupado demais para deixar o país.
Em uma demonstração de confiança, Ahmadinejad participou de uma cúpula regional na Rússia quatro dias depois da eleição, ignorando os protestos de rua massivos dos partidários dos candidatos derrotados Mirhossein Mousavi e Mehdi Karoubi, que dizem que a votação foi fraudada.
Último colocado nas pesquisas, o reformista Karoubi rejeitou novamente o resultado e prometeu continuar seu questionamento. "Não considero este governo legítimo", diz um comunicado em seu website.
Mousavi acrescentou que o governo é ilegítimo. "É nossa responsabilidade histórica continuar nossos protestos e não abandonar nossos esforços de preservar os direitos da nação", disse ele.
O Conselho dos Guardiões, órgão com função legislativa e de supervisão, endossou na segunda-feira o resultado da eleição e desconsiderou as queixas de irregularidades.
Karoubi e o ex-primeiro-ministro moderado Mousavi se mantêm firmes em sua exigência de anulação da votação, desafiando assim o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, que endossou o resultado e condenou os dissidentes.
"Algumas forças visíveis e invisíveis bloquearam qualquer mudança no poder executivo," queixou-se Karoubi, exigindo a libertação de "milhares" de pessoas que ele diz terem sido presas durante os tumultos.
O chefe da polícia do Irã, Ismail Ahmadi-Moghaddam, afirmou que o número total de detidos é 1.032 e que a maioria foi libertada. Os demais foram "encaminhados às cortes revolucionárias e públicas em Teerã", segundo informou a agência Fars. Ele afirmou que 20 "baderneiros" tinham sido mortos e mais de 500 policiais, feridos.
Falta de vacinas expõe incompetência dupla de Nísia Trindade em 2024
Lira expõe papel do governo Lula na liberação de emendas ao confrontar Dino
Marco Civil da Internet no STF: a expectativa da retomada do julgamento em 2025; ouça o podcast
Investigados pelo CNJ, juízes que participaram de jantar com Luciano Hang se declaram suspeitos