O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, abandonou ontem a cúpula de chefes de Estado do Mercosul, em Brasília, antes do almoço de encerramento do encontro. Maduro se irritou com a presidente Dilma Rousseff, que não teria permitido que ele participasse de uma reunião com o presidente da Guiana, David Granger.
Bloco assina protocolo para adesão da Bolívia como membro pleno
Chanceleres dos países que integram o Mercosul assinaram ontem acordos de adesão da Bolívia ao bloco, como integrante pleno do Mercosul, e de Suriname e Guiana como países associados.
Leia a matéria completaVenezuela e Guiana enfrentam uma crise diplomática após a descoberta de jazidas de petróleo no território de Essequibo, na fronteira entre os dois países, e Granger pediu uma audiência bilateral para que o Brasil ajude na mediação do impasse. O venezuelano chegou antes do previsto ao Palácio Itamaraty para tentar fazer parte da audiência, mas não conseguiu.
Segundo o cerimonial do Itamaraty, Dilma só foi avisada da chegada de Maduro quando a reunião com Granger já havia sido encerrada. Foram cinco minutos de espera para que, finalmente, Maduro surgisse por trás de Dilma, dessa vez recebendo calorosos cumprimentos e pedidos de desculpas da presidente.
Depois de participar da reunião de trabalho e da sessão plenária, Maduro foi embora nervoso, sem participar do almoço. Na saída, disse a jornalistas que Granger é um “provocador”. “Creio que sua única missão à frente da Presidência da Guiana é provocar a Venezuela. Não venha provocar”, afirmou.
Comércio
Os integrantes do Mercosul querem montar um plano de ação para identificar medidas tarifárias e não tarifárias que emperram o comércio entre países do bloco. O tema deve ser retomado hoje em encontro dos presidentes na cúpula do grupo, em Brasília. Ontem, chanceleres se encontraram para debater a crise econômica internacional e o pouco dinamismo do comércio regional.
Maduro não mencionou o assunto no discurso que fez na reunião de cúpula, mas fez referência aos Estados Unidos e aos opositores de seu governo. “Ninguém vai nos apagar do mapa”, garantiu. Granger, que falou em seguida, citou o conflito. “O mundo inteiro já reconhece nossas fronteiras. A Guiana foi obstruída dentro do desenvolvimento de seu próprio território. Nossos vizinhos expulsaram uma de nossas embarcações petroleiras e nossa economia tem sido paralisada. Já temos provocações incansáveis há muitos anos”, disse.
Essequibo, uma zona marítima onde a americana Exxon Mobil descobriu uma importante reserva de petróleo, pertence à Guiana, mas a soberania é reclamada pela Venezuela. A fronteira entre os países foi delimitada no fim do século 19.