Egito abre fronteira temporariamente
Milhares de moradores da Faixa de Gaza correram nesta terça-feira para a fronteira com o Egito, esperando aproveitar uma inesperada oportunidade de sair do território bloqueado, enquanto uma milícia palestina no norte de Gaza denunciou um ataque aéreo israelense no qual morreram três de seus membros. O Egito anunciou a abertura temporária da fronteira.
Em automóveis carregados de malas ou mesmo a pé, milhares de palestinos de Gaza correram até a fronteira, vigiados por policiais do Hamas com armas automáticas.
A Jihad Islâmica, milícia apoiada pelo Irã, afirmou que três combatentes morreram após lançarem foguetes em Israel, que segundo autoridades israelenses não causaram vítimas. As Forças Armadas de Israel confirmaram o ataque aéreo.
O governador do Sinai, Murad Muwafi, disse que o presidente egípcio, Hosni Mubarak, ordenou que a passagem fronteiriça em Rafah fosse reaberta durante "vários dias". A medida é tomada para "aliviar o sofrimento de nossos irmãos palestinos após o ataque israelense" à flotilha. A passagem foi fechada pelo Egito após o Hamas tomar o controle da Faixa de Gaza, em 2007.
O gabinete israelense de segurança lamentou a morte de nove pessoas na interceptação dos barcos que tentavam levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, mas disse que manterá o bloqueio naval imposto como parte de um cerco geral ao território.
"Israel vai continuar a defender seus cidadãos contra a base terrorista do Hamas", acrescentou a nota de Israel.
ONU pede cautela a outros ativistas
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu cautela nesta terça-feira quando novas embarcações humanitárias se aproximavam da costa da Faixa de Gaza, horas depois de o Conselho de Segurança exigir uma investigação sobre a mortífera abordagem israelense a uma embarcação na segunda-feira.
A porta-voz Marie Okabe disse que a ONU está ciente das notícias de que pelo menos mais uma embarcação com ativistas se dirigia à Faixa de Gaza para tentar furar o bloqueio militar de Israel contra a população desse encrave palestino.
Segundo a porta-voz, "todas as partes devem agir conforme o direito internacional e evitar provocações neste momento delicado."
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Diante da indignação internacional contra sua ação militar para impedir a chegada de barcos à Faixa de Gaza, Israel anunciou nesta terça-feira que deportará todos os ativistas detidos no incidente, abandonando a ameaça de processar alguns deles.
Nove ativistas morreram na madrugada de segunda-feira durante a invasão militar de navios com os quais ativistas pretendiam chegar à Faixa de Gaza para entregar mantimentos, furando o bloqueio comercial que Israel impõe à região palestina governada pelo grupo islâmico Hamas.
Em meio a uma ampla condenação internacional, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu uma investigação imparcial das mortes. O governo da Turquia, país originário da maioria dos barcos e ativistas envolvidos no incidente, exigiu que Israel suspendesse imediatamente o "desumano" bloqueio aos 1,5 milhão de palestinos de Faixa de Gaza.
Israel inicialmente declarou que pretendia deportar 682 ativistas de 35 países, mas que alguns deles seriam processados por terem agredido fuzileiros navais israelenses.
Depois, um porta-voz do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que todos os ativistas "serão deportados imediatamente" e que a operação deve estar concluída em 48 horas.
Entre os quase 700 ativistas presos em seis barcos estão a cineasta brasileira Iara Lee, radicada nos Estados Unidos, dois políticos europeus e o escritor sueco Henning Mankell.
Na Turquia, o primeiro-ministro Tayyip Erdogan, visivelmente irritado, disse ao Parlamento que "o comportamento de Israel deve definitivamente, definitivamente ser punido." "Chegou a hora de a comunidade internacional dizer 'basta'," afirmou ele.
Erdogan é um político islâmico moderado que vem promovendo uma aproximação com o Irã e com outros inimigos de Israel, apesar de a Turquia já ter sido no passado o principal aliado islâmico do Estado judeu. O ataque às embarcações turcas pode tornar as relações ainda mais tensas.
O caso no Mediterrâneo cria atritos também entre Netanyahu e o presidente dos EUA, Barack Obama. Netanyahu estava no Canadá quando o incidente aconteceu, e voltou a Israel em vez de viajar para Washington e se reunir com Obama, conforme estava programado.
Obama, que recentemente conseguiu convencer israelenses e palestinos a retomarem um processo indireto de negociações, disse que espera ver os fatos serem esclarecidos rapidamente.
Condolências
Num telefonema a Erdogan, Obama manifestou condolências pelos mortos -quatro deles turcos - e reiterou o apoio dos EUA a uma investigação imparcial "dos fatos que cercam essa tragédia", segundo a Casa Branca.
O presidente, de acordo com esse relato, acrescentou que é importante encontrar "melhores formas de prestar assistência humanitária ao povo de Gaza sem afetar a segurança de Israel."
A secretária de Estado Hillary Clinton disse a jornalistas em Washington que a situação "é muito difícil e exige respostas cuidadosas e refletidas de todos os envolvidos."
A ONU também cobrou uma investigação imparcial, levando o chanceler de Israel a telefonar para o secretário-geral Ban Ki-moon queixando-se de que seu país teria sido condenado injustamente por "ações defensivas."
Os militares israelenses dizem que seus soldados abriram fogo porque corriam grave perigo, pois foram cercados e atacados por ativistas no momento em que desembarcavam de helicóptero no navio Mavi Marmara.
As imagens dos ativistas agredindo soldados com canos certamente devem fazer a opinião pública israelense se perguntar como uma ação militar pôde ter sido tão mal concebida.
Já a versão dos ativistas começará a ser ouvida agora que alguns estão sendo deportados. Huseyin Tokalak, capitão de um dos barcos apreendidos, disse em entrevista coletiva em Istambul que um navio militar israelense ameaçou afundar a sua embarcação, e em seguida os soldados realizaram a invasão e apontaram armas contra os tripulantes.
"Eles apontaram duas armas para a cabeça de cada um de nós", disse Tokalak. "Eram armas realmente interessantes, como as que se veem nos filmes."
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