Manifestantes turcos protestam contra Israel. Tropas do país atacaram um comboio de navios humanitários que transportavam suprimentos para Gaza. Dez pessoas morreram durante o ataque.| Foto: REUTERS/Andrea Comas

Fuzileiros navais israelenses invadiram na segunda-feira um navio turco de assistência humanitária que ia para Gaza e 9 ativistas pró-palestinos morreram, deflagrando uma crise diplomática e planos para uma sessão de emergência no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

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Países europeus, assim como a ONU, a Turquia e o Brasil, expressaram indignação com o final violento à tentativa dos ativistas internacionais de furar o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza.

O governo brasileiro demonstrou nesta "choque e consternação" com o ataque israelense chamou o embaixador israelense no Brasil para manifestar "indignação" com o incidente.

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A conversa entre o embaixador de Israel, Giora Becher, e a sub-secretária de assuntos políticos do Itamaraty, Vera Magalhães, durou cerca de uma hora e ocorreu na sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília.

Segundo a representação israelense, o Itamaraty reiterou sua condenação ao ataque desta manhã e demonstrou preocupação com o futuro das negociações de paz com os palestinos. O enviado israelense afirmou que a ação humanitária tinha objetivo de "provocar" o Estado judeu.

"Não foi ação humanitária, mas foi uma provocação com intuito de apoiar o Hamas na Faixa de Gaza", disse Becher, de acordo com a embaixada de Israel.

A Marinha israelense deteve seis navios transportando 700 pessoas e 10 mil toneladas de suprimentos para o enclave palestino governado por islâmicos.

A Turquia acusou Israel de "terrorismo" em águas internacionais e o Conselho de Segurança da ONU preparava uma reunião de emergência. Em Washington, no entanto, os EUA disseram apenas lamentar a perda de vidas e que analisavam a "tragédia".

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Em Istambul, pelo menos 10 mil pessoas protestavam contra a ação israelense. Os manifestantes na maior cidade turca gritavam pedindo "vingança" contra Israel.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que estava no Canadá e manifestou apoio total à operação da Marinha, voltou mais cedo de uma visita à América do Norte que deveria terminar na terça-feira com uma reunião na Casa Branca com o presidente dos EUA, Barack Obama.

Netanyahu defendeu a ação de seu país: "Eles (forças de Israel) foram cercados, foram atacados, houve inclusive um relato de fogo de artilharia. E nossos soldados se defenderam".

O encontro dele com Obama parecia ter como objetivo melhorar os laços entre EUA e Israel, prejudicados pelas diferenças sobre as negociações recentemente reabertas com os palestinos. Mas Obama também precisa pesar o apoio a Israel, popular entre os eleitores norte-americanos, com a compreensão da Turquia e de outros aliados muçulmanos dos EUA.

Bloqueio

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Enquanto as embarcações estrangeiras capturadas eram conduzidas ao porto de Ashdod, em Israel, as notícias sobre a operação -- ocorrida a cerca de 120 quilômetros em pleno Mediterrâneo, antes do alvorecer -- eram incompletas. Os fuzileiros navais invadiram o navio a partir de escaleres e de helicópteros.

Autoridades da Defesa de Israel disseram que 10 ativistas morreram no Mavi Marmara, o cruzeiro turco que levava 581 pessoas a bordo, depois de os soldados terem sido atacados, incluindo com armas que os ativistas tomaram dos que invadiram o navio. Sete soldados e 20 manifestantes ficaram feridos, afirmaram os militares.

Israel impôs um bloqueio de comunicação aos que estavam a bordo do comboio e outros relatos não estavam disponíveis. Autoridades consulares estavam em Ashdod procurando ter acesso aos estrangeiros detidos.

Não estava claro quem eram as vítimas. Um oficial naval israelense afirmou que a maior parte dos mortos é formada por turcos. No comboio também estariam norte-americanos, israelenses, palestinos, muitos europeus e a brasileira Iara Lee.

A violência gerou protestos de rua e a ira do governo na Turquia, que por muito tempo foi o único aliado muçulmano de Israel na região.

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O primeiro-ministro Tayyip Erdogan -- cujos pontos de vista islâmicos e estendidas de mão ao Irã e a outros inimigos de Israel são responsabilizados por muitos em Israel pela deterioração nas relações -- disse, antes de abreviar uma viagem ao Chile: "Essa ação, totalmente contrária aos princípios da lei internacional, é um desumano terrorismo de Estado."

Ancara também cancelou exercícios militares conjuntos e chamou seu embaixador. Israel recomendou aos turistas na Turquia para que permaneçam em locais fechados.

O governo brasileiro expressou "choque e consternação" com o ataque e chamará o embaixador israelense no Brasil para manifestar "indignação" com o incidente.

Um ministro israelense admitiu planos de manter o bloqueio ao Hamas, o grupo islâmico que governa Gaza. "Será um grande escândalo, sem dúvida sobre isso", disse o ministro do Comércio Binyamin Ben-Eliezer à Reuters. "Massacre"

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, disse: "O que Israel cometeu a bordo da Flotilha da Liberdade foi um massacre". Parece improvável que ele prossiga com as conversações de paz mediadas pelos EUA por enquanto.

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O vice-ministro das Relações Exteriores israelense, Danny Ayalon, culpou os ativistas pela violência e os chamou de aliados dos inimigos islâmicos de Israel Hamas e Al Qaeda. Caso tivessem passado, afirmou ele, teriam aberto uma rota de tráfico de armas para Gaza.

Ele rejeitou as acusações de que Israel tenha ferido a lei internacional ao entrar em navios estrangeiros que estavam longe de suas águas territoriais.

Um vídeo do comboio mostrou um comando descendo em uma corda e lutando com um homem que segurava um bastão, que depois parecia tentar esfaquear o fuzileiro naval. Imagens militares feitas à noite pareciam mostrar dezenas de pessoas aglomerando-se em torno de grupos menores de fuzileiros navais, mas não parecia mostrar a morte dos ativistas.

Um soldado disse a jornalistas que foi atacado com barras de metal e facas quando desceu de um helicóptero para o navio por volta das 4h (22h de domingo, no horário de Brasília). Alguns ativistas, falando em árabe, tentaram tomar fuzileiros navais como reféns, segundo ele.

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