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A vice-cônsul brasileira em Houston, no Texas, disse nesta terça-feira que o Itamaraty não poderá atender ao pedido feito por familiares de Benilda Caixeta de ajuda financeira para que possam acompanhar o processo de identificação do corpo encontrado na residência da mineira naturalizada americana em Nova Orleans, na Louisiana. De acordo com Flávia Passos, uma missão diplomática chefiada pelo cônsul Carlos Alberto Pimentel irá na quarta-feira para Baton Rouge a fim de obter notícias sobre os 18 brasileiros - incluindo Benilda - que estavam na área de jurisdição do consulado, no Sul dos EUA, durante a passagem do furacão Katrina e ainda não entraram em contato com a família. O paradeiro de outros dois brasileiros, na área de jurisdição do Consulado de Miami, também está sendo investigado.

- O Itamaraty não pode usar uma verba com familiares pelo fato de a Benilda ter optado pela cidadania americana. Além disso, o traslado do corpo deverá ser feito por conta da família. Só em casos extremos de repatriação, caso em que a pessoa teria que estar viva, o Itamaraty poderia intervir. Mas é bom salientar que ainda não sabemos se o corpo é o da Benilda, estamos trabalhando ainda com uma suposição - explicou a vice-cônsul.

Maria José Caixeta, irmã de Benilda, disse que falta de recursos financeiros e a angústia de acompanhar a situação a distância levaram a família a enviar o pedido:

- Não temos condição de arcar com uma viagem como essa. Caso a identificação seja positiva e dependendo do estado do corpo, poderíamos cremá-lo para tornar o transporte mais barato. Mas vamos esperar, afinal ainda não identificaram o corpo.

Segundo o Consulado em Houston, o corpo encontrado na casa de Benilda, que é tetraplégica e não se comunica com a família há 16 dias, foi levado para uma casa funerária em Jefferson Parish, na região metropolitana de Nova Orleans, onde também estão outros cadáveres de vítimas do Katrina.

- Não temos o poder de passar o caso dela na frente. Há uma longa fila de identificação e o corpo achado é apenas um entre tantos. Além disso, o reconhecimento de corpos vai ser a última coisa a ser feita agora, já que há gente viva precisando de ajuda. Há, por exemplo, dezenas de crianças que foram abandonadas por babás no Superdome e cujos pais ainda não foram encontrados. Mesmo assim o cônsul vai conversar com autoridades da Louisiana para tentar resolver o que for possível - afirmou Flávia Passos.

Segundo uma fonte no Itamaraty, a situação criou uma situação "inusitada":

- Estamos diante de um caso em que um país estrangeiro tenta ajudar uma americana dentro dos EUA. Isso criou uma situação inusitada.

Benilda morava sozinha em um apartamento no andar térreo totalmente adaptado para sua deficiência física. No local inundado foi encontrada uma cadeira de rodas, além do corpo de uma mulher branca e cabelo escuro, descrição que confere com a da administradora.

Em agosto de 1977, após tratamento frustrado no Brasil, Benilda foi a Washington para tentar se curar do que Maria José chama de "paralisia no crescimento dos nervos do corpo", uma doença que era um assunto evitado pela família e que estava afetando todos os movimentos da irmã. Já em Nova Orleans, depois de uma cirurgia mal-sucedida, o quadro evoluiu à paraplegia e, após algum tempo, à tetraplegia. Apesar da doença, Benilda preferiu fixar residência nos EUA, voltando poucas vezes ao Brasil.

No último contato que teve com a família, na noite de 28 de agosto, sete horas antes de o furacão chegar a Nova Orleans, a administradora, que tem apenas alguns movimentos nos pés e nas mãos e precisa se locomover em cadeira de rodas motorizada, contou que ficaria em casa até que a tormenta passasse, já que não teria como abandonar o local, após não conseguir ajuda de amigo locais.

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