A Justiça argentina ordenou nesta terça-feira (15) que o governo informe o número de pobres que há no país. A decisão responde a pedido feita pela deputada Victoria Donda, da frente Progressistas, de oposição ao governo de Cristina Kirchner.
Na decisão, a Justiça também determinou que o Indec, o instituto de pesquisas argentino, divulgue os valores absolutos dos preços dos produtos que usa como base para o cálculo da inflação.
O governo tem cinco dias, segundo o despacho judiciário, para cumprir a decisão.
O intenso debate sobre pobreza e desnutrição infantil na Argentina foi reaberto após a morte de um menino indígena de 14 anos na província de Chaco, em decorrência de um quadro de inanição.
Enquanto os dados oficiais de 2013, produzidos pelo governo Cristina, apontam para uma taxa de pobreza inferior a 5% da população, estatísticas privadas mostram uma situação bem mais alarmante.
Segundo o informe da dívida social, produzido pela Universidade Católica, a pobreza atinge 28,7% da população, cerca de 11 milhões de argentinos. Entre os menores de 18 anos, o percentual alcança 40%.
No fim de 2013, o governo interrompeu a pesquisa. Neste ano, o ministro da Economia, Axel Kicillof, justificou a falta de estatísticas sobre o tema alegando que a classificação de pobreza é complexa e que tratar uma pessoa como pobre é “estigmatizá-la”.
Estatísticas contestadas
Desde 2007, o Indec está sob intervenção do governo e produz estatísticas que não são tratadas como críveis pelos próprios argentinos.
“Se escondem tanto, é porque alguma coisa tem”, afirmou Abel Albino, coordenador da Fundação Conin, que desenvolve políticas contra a desnutrição infantil.
Albino afirma que a ONG trabalha com dados de mortalidade infantil para inferir a proporção de crianças argentinas que padecem de fome. Trata-se de um método também aplicado no Chile.
Por essa estatística, as províncias do norte da Argentina -região mais pobre do país- têm uma proporção de mortes de 20 crianças a cada 1.000 indivíduos. Os casos de desnutrição, afirma Albino, estão diretamente relacionados à pobreza.
No Chile, como comparação, o número não passa de 7 por 1.000 crianças. No Brasil, segundo o IBGE, são 13,82 mortes infantis para cada 1.000 crianças.
O menino indígena Oscar Sánchez, da etnia qom, morreu na semana passada. Ele pesava 11 quilos e morreu em decorrência de uma tuberculose.
Segundo Albino, essas doenças vitimizam crianças que são mal alimentadas, que também morrem por diarreia e outras enfermidades que se aproveitam da baixa imunidade provocada pela fome.
“Acredita-se que uma pessoa pobre é apenas uma pessoa sem dinheiro. Não é assim. Uma pessoa pobre também tem menos educação, cultura e entusiasmo”, diz Albino, para quem é necessário uma política de Estado que reconheça e combata o problema.