As forças de Muamar Kadafi avançaram na sexta-feira em direção a uma cidade dominada por rebeldes no oeste da Líbia, enquanto a oposição afirmou ter capturado a localidade petrolífera de Ras Lanuf, ampliando seu domínio sobre o leste do país.
Os combates parecem confirmar a divisão da Líbia entre uma zona controlada por Kadafi no oeste, incluindo Trípoli, a capital, e uma parte dominada por rebeldes a leste.
Em Zawiyah, cidade que fica 50 quilômetros a oeste Trípoli, pelo menos 30 civis foram mortos e dezenas de outros ficaram feridos na ofensiva governamental, segundo um morador. A cidade havia chegado a cair nas mãos dos rebeldes, causando um constrangimento para Kadafi, que enfrenta a pior rebelião nos seus 41 anos no poder.
Um morador, que se identificou como Mohamed, relatou que as forças governistas usaram lançadores de granadas, metralhadoras pesadas e franco-atiradores no telhado de um hotel para alvejar manifestantes que fizeram um protesto contra Kadafi após a prece de sexta-feira.
Uma força rebelde improvisada recuou para a praça dos Mártires, no centro da cidade, e as tropas do governo estavam a cerca de quatro quilômetros dali, segundo um porta-voz rebelde.
Um funcionário do governo líbio disse que a cidade "foi liberada, (mas) talvez ainda existam alguns bolsões (de resistência rebelde)".
No leste, os rebeldes disseram que suas forças tomaram Ras Lanuf, que fica em uma estratégica estrada litorânea. Horas antes, eles haviam anunciado a captura do aeroporto local.
"Dominamos Ras Lanuf cem por cento, as forças de Kadafi foram todas embora", disse o soldado amotinado Hafez Ibrahim. Ele não disse quem está no controle da base militar e do terminal petrolífero que ficam próximos da cidade.
Em Trípoli, um vice-chanceler disse a jornalistas que as forças do governo ainda controlam Ras Lanuf.
Bombardeio em Benghazi
Os rebeldes já dominam grande parte do leste da Líbia, inclusive Benghazi, segunda maior cidade do país e epicentro da revolta contra Kadafi.
Um porta-voz das forças rebeldes disse que forças governistas bombardearam na sexta-feira um depósito de armas nos arredores de Benghazi.
"Muita gente morreu. Há muitos hospitalizados. Ninguém pode se aproximar, ainda está muito perigoso", disse um morador que se identificou apenas como Saleh.
As forças de segurança isolaram a área, e uma testemunha da Reuters disse que pelo menos oito ambulâncias foram vistas retirando feridos. Vidraças se romperam num raio de vários quilômetros do ataque, segundo moradores.
Mais cedo, voluntários rebeldes disseram que um bombardeio aéreo do governo por pouco não atingiu um quartel controlado por militares rebeldes na cidade de Ajdabiyah, no leste.
Os relatos sobre os combates na Líbia - 12o maior exportador mundial de petróleo - levaram o petróleo a registrar sua maior cotação nos EUA desde setembro de 2008. O barril do tipo Brent com entrega em abril subiu 1,36 dólar, atingindo 116,17 dólares.
A Agência Internacional de Energia disse que 1 milhão de barris por dia estão deixando de ser exportados, o que representa a maior parte da produção habitual de 1,6 milhão de barris por dia na Líbia.
Crise humanitária
A rebelião provoca também uma crise humanitária na vizinha Tunísia, onde dezenas de milhares de trabalhadores estrangeiros se refugiaram. Uma ponte aérea internacional foi implementada, reduzindo o número de refugiados nos acampamentos.
Os rebeldes disseram anteriormente à Reuters que estavam dispostos a negociar um acordo que leve à renúncia e/ou exílio de Kadafi, que tem sido alvo de críticas e sanções internacionais devido aos ataques contra civis.
"Vitória ou morte (...). Não vamos parar até libertar todo este país", afirmou Mustafa Abdel Jalil, chefe do Conselho Nacional criado pelos rebeldes, com sede em Benghazi.
Governos ocidentais pressionam Gaddafi a renunciar e avaliam diversas opções, incluindo a imposição de uma zona de exclusão aérea, mas são cautelosos sobre qualquer envolvimento militar nessa crise.
Em Trípoli, tiroteios foram ouvidos no bairro de Tajoura, onde forças leais ao regime dispersaram uma multidão de manifestantes que chamavam Kadafi de "inimigo de Deus".
Os manifestantes saíram em passeata da mesquita Adha Murat depois das orações de sexta-feira, e várias centenas começaram a entoar palavras de ordem pedindo a renúncia de Kadafi.
Até cem pessoas foram presas na capital sob suspeita de colaboração com os rebeldes, segundo a TV Al Jazeera.