O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, aceitou nesta terça-feira sua reeleição, após a desistência de seu oponente, e estendeu a mão aos rivais ao prometer a criação de um governo de inclusão e a erradicação da corrupção.
O líder afegão, no entanto, não entrou em detalhes sobre as reformas nem declarou se estaria disposto a fazer concessões a seus opositores.
A recepção do governo americano foi fria. O porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, disse que os Estados Unidos não podem continuar com a mesma abordagem a respeito da corrupção no Afeganistão e que esperam resultados diferentes. Gibbs disse que a Casa Branca continua a trabalhar com Karzai para melhorar a governança no Afeganistão, mas que o presidente dos EUA, Barack Obama, deseja uma abordagem séria para erradicar a corrupção no Afeganistão. Segundo Gibbs, os EUA não podem simplesmente esperar que a corrupção acabe no Afeganistão sem ações concretas.
Obama telefonou na segunda-feira a Karzai e o congratulou pela vitória, mas quando o presidente afegão ofereceu garantias na conversa de que lutará contra a corrupção, Obama disse a ele que "a prova não estará nas palavras, estará nas ações".
As declarações de Karzai vêm à tona apenas um dia depois de ele ter sido declarado vencedor de um processo eleitoral manchado por episódios de fraude que levaram mais de dois meses para serem resolvidos.
Karzai foi declarado vencedor depois de seu oponente no segundo turno, o ex-chanceler Abdullah Abdullah, ter anunciado que boicotaria a votação por considerar que o processo eleitoral não transcorria de forma livre nem justa.
O presidente afegão afirmou nesta terça-feira que quer incluir em seu governo pessoas de todas as partes do país, inclusive integrantes da oposição e representantes da milícia fundamentalista islâmica Taleban que desejem colaborar com o governo.
Karzi renova promessas
Karzai reconheceu nesta terça-feira aos repórteres que o Afeganistão "tem um nome ruim por causa da corrupção". Ele prometeu repetidas vezes combater a corrupção durante os últimos cinco anos, mas com pouco sucesso. "Nós faremos o nosso melhor para eliminar essa mácula das nossas roupas", ele disse. Ao lado do seu novo vice-presidente - o qual negou acusações de ligações com traficantes de drogas e de corrupção, quando foi ministro da Defesa no governo passado - Karzai disse que o problema da corrupção não está em certos funcionários, mas em leis inadequadas e na coação.
"Nós precisamos revisar as leis onde temos problemas e fazer as reformas que são necessárias", ele disse, acrescentando que a comissão anticorrupção, criada no ano passado, precisa ser fortalecida.
O final confuso das eleições afegãs forçará os EUA e seus aliados ocidentais a ajudar o governo de Karzai a restaurar a legitimidade tanto no Afeganistão quanto no exterior. O apoio público à guerra está caindo nos EUA e nos outros países que enviaram tropas para lutar na Ásia Central. A imagem de fraude generalizada nas eleições faz pouco para reverter o cenário.