Violência gerou uma crise humanitária
A escalada da violência obrigou milhares de sírios a fugirem e provocou uma séria crise humanitária. A Organização da ONU para alimentação e agricultura (FAO) indicou que três milhões de sírios necessitam de forma urgente de alimentos e ajuda.
O setor agrícola perdeu neste ano um total de 1,8 bilhão de dólares, segundo a FAO, e o desempregou aumentou 25%, de acordo com especialistas, enquanto que 30% dos pequenos e médios comerciantes precisaram fechar suas portas, segundo Sonia Khanji, membro da Câmara do Comércio de Damasco.
A violência e as sanções internacionais fizeram com que a inflação alcançasse níveis sem precedentes: 22,5% no primeiro trimestre de 2012 contra 4,6% em 2011, de acordo com o Banco Central. Também provocaram a depreciação de 50% do valor da libra síria em relação ao dólar.
Neste contexto, o presidente americano Barack Obama anunciou o envio de 12 milhões de dólares em ajuda humanitária adicional à Síria, onde mais de 20.000 pessoas morreram em meio à violência em mais de 16 meses de conflito, segundo a ONU.
O emissário internacional para a Síria, Kofi Annan, apresentou sua renúncia nesta quinta-feira (2), após o fracasso de seus esforços para resolver o conflito no país, onde soldados e rebeldes continuam a se enfrentar, sobretudo, na cidade estratégica de Aleppo.
Os combatentes do Exército Sírio Livre (ESL), formado de desertores e civis armados, bombardearam durante o dia um aeroporto militar perto de Aleppo (norte), segunda cidade da Síria, enquanto em Damasco, o Exército vasculhou bairros em busca de possíveis focos de resistência.
Os confrontos não tiveram trégua também no restante do país e, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), ao menos 51 pessoas, incluindo 31 civis, morreram nesta quinta-feira.
Depois de meses de esforços para tentar resolver de forma pacífica o conflito iniciado em março de 2011 por um movimento de contestação duramente reprimido pelo regime, Kofi Annan, nomeado em 23 de fevereiro, apresentou a renúncia de seu posto como mediador da ONU e da Liga Árabe na Síria.
Annan informou à ONU e à Liga Árabe "de sua intenção de não renovar seu mandato, quando este expirar em 31 de outubro de 2012", anunciou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em um comunicado.
"Não recebi todo o apoio que a causa merecia. Há divisões na comunidade internacional. Tudo isso complicou minha tarefa", explicou Annan em coletiva de imprensa em Genebra, momentos depois de sua renúncia ter sido anunciada.
O enviado, que visitou Damasco em várias ocasiões, havia proposto às partes envolvidas no conflito um plano de paz de seis pontos que previa, sobretudo, o fim dos combates e uma transição política, o que nunca foi aplicado.
A "transição" significa que o presidente Bashar al-Assad deve partir "cedo ou tarde", comentou.Ban indicou ter iniciado consultas junto à Liga Árabe para nomear "rapidamente" um sucessor, mas considerou que as "divisões persistentes no Conselho de Segurança (...) tornam o trabalho de qualquer mediador muito mais difícil", referindo-se ao bloqueio das resoluções ocidentais por Moscou e Pequim, aliados de Damasco.
Os Estados Unidos responsabilizaram a Rússia e a China pela renúncia de Kofi Annan, devido ao bloqueio das resoluções que ameaçam com sanções o regime de Bashar al-Assad no Conselho de Segurança.
A partida de Annan demonstra a rejeição de Assad em suspender os ataques sangrentos contra seu próprio povo, disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
"A renúncia de Annan destaca o fracasso da Rússia e da China no Conselho de Segurança em apoiar importantes resoluções contra Assad", acrescentou. O porta-voz disse que o presidente Barack Obama agradece a disposição e esforços de Annan para alcançar uma transição pacífica.
Combates
O presidente russo, Vladimir Putin, classificou de "grande vergonha" nesta quinta-feira a renúncia de Annan, ressaltando que os esforços por uma solução diplomática para o conflito não podem ser interrompidos.
"Kofi Annan é um homem de grande mérito, um brilhante diplomata e uma pessoa muito honesta, então isso é uma grande vergonha", disse Putin, citado pelas as agências de notícias russas, antes de deixar Londres após uma breve visita.
A Síria também lamentou a renúncia e atribuiu esta decisão aos "Estados que querem desestabilizar a Síria" e que "colocaram travas" na missão de Annan, em alusão aos países ocidentais, à Turquia e aos países do Golfo, de acordo com um comunicado do ministério das Relações Exteriores.
O regime aproveita as divisões internacionais e continua a reprimir a revolta, afirmando estar determinado a acabar com os insurgentes e opositores.
Na quarta-feira (1), Assad indicou que o Exército travava uma batalha "crucial" para o destino da Síria, a batalha pelo controle de Aleppo. Nesta manhã, os insurgentes bombardearam com tanques o aeroporto militar de Menagh (30 km ao noroeste de Aleppo), indicou o OSDH.
Os rebeldes afirmaram que é "um ataque para tomar o controle deste aeroporto, de onde partem os helicópteros e os aviões que atiram sobre Aleppo". Eles afirmam controlar metade desta cidade, onde o Exército bombardeia sem conseguir avançar no terreno.
Segundo uma fonte da segurança, a "etapa atual consiste em observar, testar o sistema de defesa dos terroristas, e descobrir os esconderijos antes de aniquilá-los em uma operação cirúrgica".
Contudo, é muito difícil ter uma ideia clara da situação no terreno, em razão da ausência de fontes independentes e das restrições impostas à imprensa.
Em Damasco, intensos combates eclodiram em Tadamoun, onde ainda "restam muitos rebeldes", segundo o OSDH. E, pela primeira vez, cerca de vinte jovens foram presos em Mouhajirine (norte), bairro da capital onde ficam localizados os dois palácios presidenciais.
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