O linguajar agressivo contra imigrantes mexicanos da campanha de Donald Trump o ajudou a ganhar uma substancial vantagem na conquista de delegados nas primárias republicanas, mas também está mobilizando um conjunto diferente de prováveis eleitores: seis deles apenas na família de Hortensia Villegas. Imigrante mexicana legalizada, ela é mãe de dois rapazes que já vivem nos Estados Unidos há quase uma década, mas nunca se sentiram compelidos a se tornarem cidadãos. Mas, como Trump vem se firmando para a nomeação republicana, Hortensia – bem como a irmã, os pais dela e os pais do marido – juntou-se a uma corrida de muitos imigrantes latinos para se naturalizar a tempo de votar em novembro.
“Assim Donald Trump não vai ganhar”, acredita Hortensia, de 32 anos, uma das centenas de residentes legais, a maioria mexicana, que lotavam no último sábado uma sala do registro central de Denver. “Ele não gosta de nós”.
No local, voluntários ajudavam a preencher os pedidos de cidadania, que este ano está levando cinco meses para ser aprovado pelos funcionários federais. Os pedidos de naturalização aumentaram 11% no ano fiscal de 2015 em relação ao ano anterior, e saltaram 14% apenas nos seis meses subsequentes, encerrados em janeiro, de acordo com dados federais. O ritmo está aumentando a cada semana, relatam os funcionários do registro, estimando que o número de requerimentos poderia se aproximar de um milhão em 2016, cerca de 200 mil a mais do que a média dos últimos anos.
Os pedidos de naturalizações geralmente aumentam durante os anos de eleições presidenciais. Mas Trump deu um impulso extra neste 2016. Ele começou a campanha em junho descrevendo os mexicanos como traficantes de drogas e estupradores. E fazendo a promessa de construir um muro na fronteira, que seria paga pelo México. Finalmente, prometeu criar uma força-tarefa de deportação para expulsar estimados 11 milhões de imigrantes ilegalmente estabelecidos nos EUA.
80% são desfavoráveis a Trump
Entre os 8,8 milhões de residentes legais elegíveis para se naturalizar, cerca de 2,7 milhões são mexicanos, o maior grupo nacional, segundo dados federais. Mas, depois de décadas de baixas taxas de naturalização, apenas 36% dos mexicanos elegíveis tornaram-se cidadãos, enquanto 68% de todos os outros imigrantes completaram o processo, de acordo com o Pew Research Center.
“Muitas pessoas estão abrindo os olhos por conta de todas as coisas negativas que Donald Trump tem feito”, diz Miguel Garfío, de 30 anos, marido de Hortensia, que nasceu e cresceu no Colorado e está ajudando a mulher e outros membros da família a se tornarem cidadãos.
Garfío conta que os pais vieram do México na década de 1980 e trabalharam duro toda a vida, ajudando-o a criar uma empresa de construção em Denver, que agora emprega 18 pessoas. Ele enfatiza que, contrário à afirmação de Trump, nenhum dos parentes tem antecedentes criminais.
Este ano, os imigrantes que desejam se tornar cidadãos encontram uma ajuda extra de grupos sem fins lucrativos e até mesmo da Casa Branca. Em setembro passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, abriu uma campanha nacional para estimular os residentes legais a darem o primeiro passo. Eles agora podem pagar a taxa, de US$ 680, com cartão de crédito, e fazer o teste de civismo via internet. Os formulários podem ser obtidos em “esquinas da cidadania”, estandes montados em bibliotecas públicas de muitos estados.
Trump diz estar confiante de que os latinos vão apoiá-lo, porque tem empregado milhares deles ao longo dos anos.
“Eu só estou dizendo que vou ser muito bem votado entre os hispânicos”, afirmou o magnata no debate republicano em Houston, em 26 de fevereiro.
Mas, em pesquisa com eleitores latinos, em 25 de fevereiro, feita pelo “The Washington Post” e pela Univision, rede de TV de língua espanhola, 80% tinham uma opinião desfavorável sobre Trump, incluindo 72% com uma visão muito desfavorável, muito mais do que em relação a outros candidatos republicanos.
“Donald Trump, nunca! Nunca!”, afirma Minerva Guerrero Salazar, de 40 anos, que trabalha para uma empresa de aluguel de uniformes desde que se mudou do México para os EUA, em 2002. “Ele não tem consciência quando fala dos latinos. E é tão rude. Eu não sei que tipo de educação sua mãe lhe deu”.
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