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O primeiro golpe de realidade contra o novo governo norte-americano após o discurso de Barack Obama no Egito pode vir hoje, do Líbano. O país realiza eleições para escolher 128 novos parlamentares. Pesquisas apontam a vitória por uma margem estreita da coalizão oposicionista 8 de Março – liderada pelo Hezbollah, considerado grupo terrorista pelos EUA. A eventual vitória da oposição pode significar um fortalecimento de Irã e Síria na região – dois aliados históricos do grupo xiita.

A disputa será contra a coalizão 14 de Março – atualmente com maioria no Parlamento –, apoiada pelo Ocidente e que reúne os principais grupos sunitas, drusos e cristãos. O líder é Saad Hariri, filho do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri (sunita), assassinado em fevereiro de 2005. A morte de Rafik é peça-chave para entender o atual momento da política libanesa.

O nome de ambas as coalizões são uma referência a protestos que ocorreram pouco depois do assassinato do ex-premier – para muitos, arquitetado pela Síria, embora não haja provas definitivas. Na sequência do atentado contra Rafik o Líbano foi tomado por uma onda de protestos que ficou conhecida como a Revolução dos Cedros. A principal reivindicação dos manifestantes era o fim de 30 anos de ocupação militar síria.

Em 8 de março daquele ano, sentindo-se ameaçados, os grupos pró-Síria também foram às ruas para protestar – alegando interferência de Israel e dos EUA na política interna do país. No dia 14, aniversário de um mês da morte de Rafik, uma "contra-manifestação" ainda maior foi organizada pelos partidários do ex-premier. A situação ficou insustentável e no fim de abril a Síria retirou todas as suas tropas do território libanês.

Uma coalizão formada pelo herdeiro político de Rafik, o filho Saad Hariri, assumiu o poder. Com ajuda americana, imaginava-se que seria o fim do Hezbollah. No ano seguinte, porém, uma guerra contra Israel acabou alavancando o apoio ao grupo xiita. Com um forte arsenal militar, para fazer frente inclusive ao próprio exército libanês, a oposição liderada pelo Hezbollah reacendeu. O Líbano então viveu um impasse político que deixou o país sem presidente por 18 meses e quase levou a uma nova guerra civil no ano passado.

O acordo que resolveu o impasse criou uma nova divisão de poder – que será testada nas urnas pela primeira vez agora. Quem assumiu como premier foi o sunita Fouad Siniora, mas o Hezbollah recebeu 11 dos 30 ministérios e também o poder de veto. Conforme a Constituição libanesa, o cargo de presidente é reservado a um cristão maronita, o de primeiro-ministro a um muçulmano sunita (Siniora) e o de presidente do Parlamento a um muçulmano xiita.

Há muita especulação sobre o que vai acontecer no Líbano caso a coalizão 8 de Março vença hoje, porque Saad Hariri já afirmou que não participará de um governo do Hezbollah. Ninguém sabe dizer como, então, o grupo xiita conseguirá achar um sunita com representatividade para assumir o cargo de premier.

A confusão ganhou ainda mais um ingrediente nesta eleição porque os cristãos estão divididos politicamente. Historicamente pró-Ocidente, desta vez uma parcela deles apoia o antigo chefe do Exército do Líbano Michel Aoun – que fez acordo com o Hezbollah e participa da coalizão 8 de Março. Como sunitas e xiitas votarão em seus candidatos, a eleição deve ser decidida de acordo com o lado para qual pender o voto cristão.

O cenário mais otimista é uma vitória por pequena margem do grupo 14 de Março. Hariri ou um de seus aliados políticos assumiria o poder mas faria um acordo com a oposição nos moldes do atual, em que o Hezbollah e aliados ganham poder de veto e participam do governo em alguns ministérios. (BB)

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