A ex-primeira-ministra do Paquistão, Benazir Bhutto, se reúne nesta quarta-feira (7) com líderes dos pequenos partidos da oposição para elaborar uma estratégia frente ao estado de exceção decretado pelo presidente Pervez Musharraf, com quem até então negociava uma divisão do poder.
Uma multidão de simpatizantes recebeu Bhutto em Islamabad, na sede de seu influente Partido do Povo Paquistanês (PPP), com uma chuva de pétalas de rosas.
Na chegada, Bhutto fez um chamado para que a população se manifeste em massa contra o estado de exceção.
A polícia informou, no entanto, que impedirá a realização, na sexta-feira (9), de um comício do partido de Bhutto, invocando a proibição de reuniões públicas durante o estado de exceção e a ameaça de um novo atentado.
Nas reuniões desta quarta-feira, Bhutto não tem previsto se reunir com os dirigentes dos principais movimentos de oposição, nem com o partido de Musharraf, segundo sua assessoria.
A ex-primeira-ministra iniciou a série de encontros na véspera, em meio à incerteza sobre a manutenção do estado de exceção e sobre a realização de eleições legislativas, inicialmente previstas para meados de janeiro.
Na segunda-feira, ela condenou a severa repressão policial aos advogados que se manifestavam contra o estado de emergência e pediu a libertação dos opositores detidos.
"Condenamos firmemente a violência contra os advogados e os profissionais da imprensa. Estas demonstrações de força e brutalidade devem se manter afastadas de nossa sociedade", declarou Bhutto em coletiva de imprensa na cidade de Karachi. "Todos os presos políticos devem ser libertados", afirmou.
No momento, o PPP não manifestou sua solidariedade para com as manifestações de advogados e juízes, que lideram os protestos violentamente reprimidos desde sábado (3).
Musharraf, por sua vez, se esforça para resistir às intensas pressões internacionais, principalmente de Washington, para que acabe com o estado de exceção.
Em função disso, suavizou seu discurso com promessas de realizar as eleições em uma data "o mais cedo possível" em relação à inicialmente prevista.
Os Estados Unidos elevaram o tom e ameaçaram rever as relações com o Paquistão, aliado estratégico na "guerra contra o terrorismo".
O governo americano começou a examinar os programas de ajuda ao Paquistão e já considera a possibilidade de suspender alguns deles enquanto o estado de emergência for mantido no país, segundo informou o Departamento de Estado.
Este ano, o Paquistão já foi cenário de 157 atentados, atribuídos a radicais islâmicos próximos à al-Qaeda, que custaram a vida de 667 pessoas, um recorde na história do país, segundo o ministério do Interior.
Mais três semanas
O presidente da governista Liga Muçulmana do Paquistão (PML), Chaudhry Shujaat Hussain, disse nesta quarta-feira (7) que o estado de exceção em vigor há quatro dias durará menos de três semanas, informou o jornal "Dawn".
"Tenho certeza de que isso terminará em duas ou três semanas. O presidente Pervez Musharraf está consciente das conseqüências de um estado de exceção longo", afirmou Hussain. "Ninguém quer um estado de exceção. O chefe do Exército (o próprio Musharraf) tomou a decisão de forma reticente", completou o presidente do partido.
Musharraf declarou o estado de exceção no sábado (3), alegando a suposta deterioração da lei e da ordem no país e as "ingerências" da Justiça no trabalho do governo.
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