A revolução do Khmer Vermelho nos anos 1970 tinha como objetivo libertar o Camboja do colonialismo e proteger o país contra uma invasão do Vietnã, disse o ideólogo do partido, Nuon Chea, ao depor em um tribunal nesta terça-feira (22), inaugurando sua defesa contra a acusação de genocídio.
O depoimento foi o primeiro em que um líder do Khmer Vermelho defendeu as motivações do regime ultra-comunista desde que o tribunal da ONU começou, no ano passado, a julgar casos relacionados à revolução sangrenta dos "Campos de Extermínio", que eliminou um quarto da população entre 1975 e 1979.
O ex-presidente Khieu Samphan, o ex-ministro de Relações Exteriores Ieng Sary e o "Irmão Número Dois", Nuon Chea, são acusados de crimes contra a humanidade e crimes de guerra, além de genocídio.
Nuon Chea, o primeiro acusado a prestar depoimento, negou todas as acusações.
"Minha posição na revolução era para servir os interesses da nação e do povo", afirmou.
"A opressão, a injustiça me motivou a dedicar a vida à luta pelo país. Eu tive de deixar minha família para trás para libertar a terra mãe do colonialismo e da agressão, e da opressão de ladrões que querem roubar nossa terra e varrer a Camboja da face dessa terra", disse ele ao tribunal.
O Vietnã queria "engolir" o Camboja, disse Nuon Chea.
"O exército do partido comunista do Vietnã e grupos militares vietnamitas ainda permanecem discretamente em solo cambojano... com a ambição de ocupar, engolir o Camboja e eliminar o Camboja, seu rosto e sua etnia, trazendo imigrantes vietnamitas ilegalmente para viver no Camboja até hoje."
Promotores dizem que até 2,2 milhões de pessoas foram mortas sob o regime do Khmer Vermelho, que foi finalmente obrigado a deixar o poder quando o Vietnã invadiu em 1979.
Membros remanescentes do Khmer Vermelho continuaram lutando até os anos 1990.
Pol Pot, que estudou na França e foi o arquiteto da revolução do "Ano Zero", morreu em 1998.
A quarta acusada, a ex-ministra de Assuntos Sociais Ieng Thirith, foi declarada mentalmente doente e impossibilitada de ir a julgamento na semana passada. Ela continua sob detenção aguardando um recurso dos promotores.
Em declarações iniciais na segunda-feira, promotores cambojanos e internacionais disseram que os acusados haviam arquitetado um dos piores horrores da história moderna, matando e escravizando milhões de pessoas e criando um "pesadelo vivo".
Um dos promotores internacionais, Andrew Cayley, disse que o tribunal não deveria ser tentado pelo sentimento de compaixão pelos réus idosos e enfermos, já em seus 80 e poucos anos, que "assassinaram, torturaram e aterrorizaram" seu próprio povo.
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