Líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei| Foto: Reuters

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, emitiu na sexta-feira uma dura advertência aos líderes dos protestos de rua que questionam a eleição presidencial, dizendo que eles seriam responsáveis por qualquer derramamento de sangue.

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As palavras de Khamenei pareciam dar pistas de uma futura perseguição contra as manifestações após a eleição, ocorrida há uma semana, que, segundo o líder supremo, foram vencidas honestamente e sem fraude por Mahmoud Ahmadinejad, ao contrário do que acusa o candidato derrotado, Mirhossein Mousavi.

Khamenei pediu o fim dos protestos em seu primeiro discurso à nação desde que os resultados da eleição deflagraram as maiores manifestações de rua dos 30 anos de história da República Islâmica.

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"Se houver algum derramamento de sangue, os líderes dos protestos serão considerados responsáveis diretamente", disse o clérigo de barba branca à multidão reunida na Universidade de Teerã e nas ruas vizinhas para as orações de sexta-feira.

Os partidários de Mousavi haviam planejado mais uma manifestação para sábado. Mas um aliado do candidato derrotado, que é moderado, disse à Reuters após o discurso de Khamenei que Mousavi não tinha planos de organizar comícios no sábado ou no domingo.

A mídia estatal relatou que sete ou oito pessoas morreram durante o levante, iniciado depois que o resultado da eleição foi divulgado em 13 de junho. Os partidários de Mousavi organizaram enormes comícios em Teerã e houve notícias de manifestações em diversas cidades iranianas.

Vários reformistas foram presos e as autoridades tomaram medidas duras contra a imprensa local e estrangeira.

Khamenei pediu por calma no país, um grande exportador de petróleo que também protagoniza uma disputa com as potências mundiais por conta do programa nuclear do país. O Ocidente suspeita que o programa poderia ser usado para o desenvolvimento de bombas. Teerã diz que a atividade nuclear tem fins pacíficos.

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"O resultado da eleição vem das urnas, não das ruas", disse ele. "Hoje, a nação iraniana precisa de calma."

Khamenei também atacou o que chamou de interferência das potências estrangeiras que questionaram o resultado da eleição, dizendo que os inimigos do Irã tentavam minar a legitimidade do establishment islâmico.

"As declarações das autoridades americanas sobre os direitos humanos e as restrições às pessoas não são aceitáveis, porque eles não têm nenhuma ideia de direitos humanos após o que fizeram no Afeganistão e no Iraque e em outras partes do mundo", afirmou ele.

A Grã-Bretanha disse ter convocado o embaixador iraniano para reclamar do discurso de Khamenei, durante o qual ele chamou os britânicos de "sinistros". A chanceler alemã, Ângela Merkel, considerou o discurso decepcionante.

Muitos países europeus e organizações de direitos humanos criticaram a eleições e seus resultados.

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Após o pedido de Khamenei para encerrar os protestos, a Casa Branca disse os iranianos deveriam ser livres para se manifestar e que o presidente Barack Obama condena a violência.

"INÍCIO DE UMA DITADURA"

O discurso de Khamenei seguiu-se a seis dias de protestos feitos por partidários de Mousavi. Na quinta-feira, dezenas de milhares de manifestantes segurando velas percorreram as ruas do centro de Teerã em homenagem aos mortos durante os protestos.

Se os partidários de Mousavi desafiarem a advertência explícita de Khamenei contra mais protestos, eles correrão o risco de provocar uma resposta dura das forças de segurança, que até agora não tentaram evitar as grandes reuniões.

"Mousavi não planeja fazer um comício amanhã ou depois de amanhã e se ele decidir realizar um comício será anunciado no site dele", disse um aliado do candidato derrotado à Reuters.

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O principal órgão legislativo do Irã, o Conselho dos Guardiães, está examinando queixas de três candidatos derrotados, mas informou que determinará a recontagem de apenas algumas urnas, e não anulará a eleição, como exigido por Mousavi.

Outro candidato, Mehdi Karoubi, pediu através de uma carta nesta sexta-feira que o resultado da eleição seja cancelado.

Khamenei disse que os candidatos derrotados estavam errados em acreditar "que, usando os protestos de ruas como instrumento de pressão, podem compelir as autoridades a aceitar suas demandas ilegais. Isso seria o início de uma ditadura."

Milhares de pessoas ouviram atentamente o discurso de Khamenei ecoando dos alto-falantes do lado de fora da Universidade de Teerã, por vezes aplaudindo e cantando para manifestar aprovação à fala.

No mesmo local, centenas de estudantes universitários fizeram uma manifestação em apoio a Mousavi no domingo, atirando pedras contra a polícia que tentava dispersar os manifestantes para fora dos portões.

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"Com esse discurso, o líder pôs fim a todos os problemas", disse um clérigo de meia-idade na multidão. "As diferenças entre os políticos serão resolvidas."

Muitas das pessoas reunidas para ouvir Khamenei estavam envoltas em bandeiras iranianas. "Não deixem que a história do Irã seja escrita com a caneta dos estrangeiros", dizia um folheto.

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