Líderes católicos e muçulmanos, em um encontro inédito ocorrido no Vaticano, prometeram na quinta-feira trabalhar juntos no combate à violência e ao terrorismo, especialmente quando atos do tipo realizam-se em nome de Deus.
No final de uma conferência de três dias, os 58 estudiosos e líderes participantes - 29 deles de cada lado - divulgaram uma declaração conjunta de 15 pontos na qual incluíram também um apelo pela defesa dos credos religiosos minoritários.
As reuniões ocorreram dois anos depois de o papa ter feito um discurso sugerindo que o Islã seria violento e irracional, o que provocou violentas manifestações no Oriente Médio. Os muçulmanos formaram um grupo para refutar essas declarações e buscar um melhor entendimento mútuo.
"Nós defendemos que os católicos e os muçulmanos sejam convocados a servirem de instrumentos do amor e da harmonia entre os fiéis e para a humanidade como um todo, renunciando a quaisquer tipos de opressão, violência agressiva e terrorismo, especialmente aos atos cometido em nome da religião, e defendendo o princípio da justiça para todos", informou a declaração.
O documento pediu ainda que seja respeitado o credo religioso das minorias, acrescentando que todos deveriam "ter o direito de possuir seus locais de culto e ter o direito de que suas figuras fundadoras e símbolos considerados sagrados não sejam objeto de nenhuma forma de escárnio ou ridicularização".
O Vaticano luta há bastante tempo pela liberdade religiosa para minorias cristãs em locais como a Arábia Saudita e pelo fim da violência contra cristãos no Iraque.
O trecho da declaração sobre evitar zombaria ou ridicularização parece ser uma referência a fatos ocorridos em 2006, quando um jornal dinamarquês publicou cartuns do profeta Maomé, detonando protestos violentos no mundo islâmico.
Nesta quinta-feira, o papa Bento 16 afirmou que os muçulmanos e os cristãos compartilham os mesmos valores morais e que deveriam defendê-los juntos.
"Há um grande e vasto campo no qual podemos agir juntos na defesa e promoção dos valores morais que fazem parte de nossa herança comum", afirmou o papa, nascido na Alemanha.
"Deveríamos, então, trabalhar juntos na defesa do respeito genuíno à dignidade da pessoa humana e aos direitos humanos fundamentais, mesmo que nossas visões antropológicas e nossas teologias justifiquem isso de forma diferente."
O Vaticano também participou do diálogo inter-religioso lançado neste ano pelo rei Abdullah, da Arábia Saudita, que deve se encontrar, na próxima semana, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, com outros chefes de Estado a fim de levar adiante a iniciativa.
Esse e outros processos do tipo refletem a urgência sentida por líderes muçulmanos depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra os EUA, diante da teoria do "choque de civilizações" e após o discurso do papa em Regensburg, em 2006. Esses fatores todos sublinharam a distância existente entre os dois maiores credos religiosos do mundo.
Bento 16 disse que o Fórum Católico-Muçulmano, nome oficial do encontro previsto para ocorrer a cada dois anos, dá "agora de forma confiante seus primeiros passos".
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