Na Praça de São Pedro, no Vaticano, não se falava em outra coisa. A notícia de que o Papa Bento XVI deixará o ministério no último dia deste mês comoveu Roma e o próprio Estado do Vaticano. Depois de divulgada pela agência de notícias Ansa às 11h46 (8h46 de Brasília), milhares de pessoas se dirigiram à praça diante da Basílica de São Pedro.
O padre jesuíta e porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, improvisou uma entrevista coletiva na sala de imprensa que fica nos limites da praça e reconheceu que "o anúncio pegou a todos de surpresa".
Reportagens ao vivo de repórteres de televisão se misturavam ao ir e vir de pessoas desconcertadas que olhavam com incredulidade para a janela do apartamento do Papa, de onde todos os domingos ele aparece para abençoar os congregados e fazer a oração do Angelus.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ressaltou o "trabalho conjunto" nos últimos quatro anos de seu governo com o Papa Bento XVI, ao comentar o anúncio da renúncia.
"Em nome de todos os americanos, em todas as partes, Michelle e eu desejamos estender nosso agradecimento e nossas orações a Sua Santidade, o Papa Bento XVI. Lembramos com afeto da nossa reunião com o Santo Padre em 2009", comentou o presidente, em comunicado emitido pela Casa Branca.
"A Igreja tem um papel crítico nos Estados Unidos e no mundo, e eu desejo o melhor para aqueles que, em breve, se reunirão para escolher o sucessor de Sua Santidade, o Papa Bento XVI", disse Obama.
O Papa visitou Washington e Nova York em 2008, em uma viagem que incluiu uma visita à Casa Branca e encontros com a comunidade católica do país, incluindo encontro no Yankee Stadium, um dos maiores dos Estados Unidos.
Dever
O primeiro-ministro irlandês, o conservador Enda Kenny, afirmou que a decisão do Papa Bento XVI de renunciar é uma amostra de um "profundo sentido do dever" em relação à Igreja Católica.
"Claramente, se trata de uma decisão que o Santo Padre tomou após meditar cuidadosamente e depois de muita oração e reflexão", afirmou Kenny, que nos últimos anos protagonizou enfrentamentos com o Vaticano pelos casos de pedofilia na Irlanda.
Honra
Para muitos, a decisão de Bento XVI deu sinais de uma visão muito honrada da liderança. "É um gesto grandíssimo do qual deveriam aprender muitos incompetentes que se apegam ao cargo, embora seu trabalho não seja útil para a sociedade à qual servem", disse o padre Sabino Lattancio. O padre acrescentou que o ainda Papa foi "correto, cortês, não muito midiático, mas muito lúcido".
A surpresa não foi sentida unicamente pelos peregrinos e turistas: as lojas de presentes que ficam na Via da Conciliação, que leva à Basílica de São Pedro, mostravam abertamente seu desconcerto diante das mercadorias colocadas à venda que, em poucos dias, podem ficar obsoletas.
A decisão de Bento XVI de deixar seu pontificado no dia 28 de fevereiro abalou Roma e deixa o mundo cristão na expectativa do conclave para decidir quem será o futuro Papa.
Impacto"Ressoou como um trovão", diz cardeal a respeito da notícia
"Ressoou como um trovão no céu tranquilo nesta sala sua comovente mensagem", foram as primeiras palavras do cardeal decano Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), após saber a decisão do Papa.
Bento XVI fez o anúncio durante um Consistório reunião de cardeais para escolher as datas da canonização de três novos santos.
"Escutamos suas palavras com uma sensação de desconcerto e quase totalmente incrédulos", acrescentava a mensagem de Bagnasco que interpretava o sentimento de todos os cardeais.
Além da comoção na Praça de São Pedro, onde os católicos estavam reunidos, reinava a incredulidade entre os turistas e fiéis perante a notícia da renúncia do Papa alemão, de 85 anos.
"Não pode ser verdade. E por quê? Está doente?", perguntou um dos fiéis na praça.
O filósofo e ex-prefeito de Veneza Massimo Cacciari definiu como "novidade surpreendente" a decisão de Bento XVI, mas a considerou "inevitável" e "madura".
Chanceler pede "o máximo respeito"
Efe
A chanceler alemã, Angela Merkel, agradeceu ao Papa Bento XVI por seus anos de trabalho à frente da Igreja Católica e desejou o melhor após sua renúncia, uma "decisão difícil" que merece "o máximo respeito".
A líder alemã, que lembrou o "orgulho" que sentiu quando Joseph Ratzinger foi anunciado como novo Papa há oito anos, agradeceu Bento XVI por seu pontificado e desejou, "de todo coração", o melhor para a etapa que se abre em sua vida após a renúncia.
Merkel considerou que a decisão de renunciar, quando deixará o cargo em 28 de fevereiro, é uma questão "difícil" por suas implicações e singularidade, por isso que merece seu "máximo respeito".
A alemã também se mostrou convencida de que Bento XVI tomou a decisão levando em conta a instituição que preside.
A chanceler destacou a "profunda cultura" de Bento XVI, seu "vivo interesse pela integração europeia" e agradeceu por ter impulsionado ativamente o "diálogo" ecumênico com "outras igrejas e religiões", como os ortodoxos e os judeus.
Além disso, Merkel, que é protestante, disse que, em sua opinião, o Papa alemão é "um dos mais significativos pensadores religiosos de nossa época". A Conferência Episcopal Alemã qualificou a renúncia como um "luminoso exemplo de responsabilidade e de amor pela Igreja".