Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esbanjou otimismo, o presidente russo, Dmitry Medvedev, demonstrou nesta sexta-feira certo ceticismo em relação à possibilidade de o Irã fechar um acordo com a ONU sobre seu programa nuclear.
Medvedev destacou que, apesar de se tratar de uma difícil missão, deseja que a visita de Lula termine com sucesso. Ele alertou, no entanto, que essa pode ser a última chance para o Irã evitar a imposição de novas sanções por causa do seu programa nuclear.
"Realmente espero que a missão do presidente brasileiro termine em um sucesso. É, talvez, a última chance", disse Medvedev em entrevista coletiva conjunta com Lula em Moscou, pedindo ainda que os líderes iranianos escutem as propostas de Lula.
Perguntado qual seria a probabilidade de sucesso, Medvedev disse 30%. Dizendo que o colega não estava otimista, Lula rebateu.
"Eu daria 9,99", afirmou o presidente brasileiro, referindo-se a uma escala de zero a 10.
Lideradas pelos Estados Unidos, potências ocidentais acusam Teerã de buscar a fabricação de armas nucleares e defendem a aplicação de novas sanções contra o país persa pela Organização das Nações Unidas (ONU). O governo de Mahmoud Ahmadinejad nega ter tal intenção, e alega querer a energia nuclear para fins pacíficos.
Em meio à disputa, o Brasil vem trabalhando para que o Irã alcance uma solução negociada com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) das Nações Unidas, depois que os dois lados chegaram a um impasse sobre a troca de urânio iraniano por combustível nuclear já pronto para o uso.
O Brasil, que usa a energia nuclear para gerar eletricidade e quer que o Irã tenha o mesmo direito, tenta ganhar espaço na cena internacional ao buscar o papel de mediador no episódio. O país tem em sua Constituição uma proibição à construção de armas nucleares.
"Desejo para o Irã o mesmo que eu quero para o Brasil", reafirmou Lula.
A iniciativa, porém, é vista com ceticismo por setores da opinião pública doméstica e outros países. Potências ocidentais chegaram a dizer que o Irã queria ganhar tempo na disputa ao aceitar iniciar conversações com o Brasil.
"Vou ao Irã com a convicção de que vamos encontrar um acordo. Se não encontrarmos acordo, vou para casa feliz porque não fui omisso e tentei fazer o que eu achava que era necessário fazer," acrescentou.
"Vou tentar utilizar tudo o que eu aprendi em política nesses 30 anos para convencer o meu amigo Ahmadinejad a fazer o acordo que a agência propõe e que todo mundo quer que seja feito."
No entanto, ao ressaltar como o Brasil é um país pacífico, Lula fez uma declaração polêmica.
"Eu passei parte da minha juventude sendo contra a invasão da Rússia no Afeganistão. Agora, quero a paz no Afeganistão também," exemplificou, revelando que o Brasil pretende ajudar o Afeganistão a desenvolver a agricultura local.
Comércio bilateral
Os dois presidentes também falaram da necessidade de ampliar o intercâmbio comercial entre Brasil e Rússia, e defenderam que as transações passem a ser feitas com moedas locais.
Para o presidente russo, "decisões em moedas nacionais" são importantes para o desenvolvimento estável dos países e para um sistema financeiro internacional mais equilibrado.
"Nem o dólar nem o euro nem nenhuma outra podem se dizer uma moeda mundial que protege todos os países. Existem problemas com todas as moedas. Então, quanto mais ativos formos em usar as moedas nacionais, mais estável será o comércio bilateral e melhor será para as instituições financeiras internacionais," argumentou.
Lula reforçou o discurso do colega: "Não existe nenhuma explicação de por que estamos tratando de comércio abdicando... e utilizando uma terceira moeda quando poderíamos fortalecer a nossa moeda." Ele já havia comentado o assunto antes, em discurso durante um seminário com empresários brasileiros e russos.
Em 2008, o comércio entre Brasil e Rússia somou 7,9 bilhões de dólares. No ano passado, devido aos efeitos da crise financeira global, a corrente comercial caiu para 4,3 bilhões de dólares.
Lula e Medvedev disseram ter a meta de elevar esse intercâmbio para 10 bilhões de dólares em 2010. No primeiro trimestre do ano, os negócios entre os dois países foram de 1,2 bilhão de dólares, alta de 63,8% em relação ao mesmo período de 2009.
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