Centenas de milhares de imigrantes faltaram ao trabalho, boicotaram empresas e fizeram passeatas em cidades dos Estados Unidos nesta segunda-feira, pedindo ao Congresso que permita que eles legalizem sua situação e se tornem cidadãos norte-americanos.
Em Chicago, a polícia disse que havia 300 mil manifestantes. Em Los Angeles, as autoridades se prepararam para até 1 milhão de pessoas em duas passeatas. Também houve manifestações importantes emHouston, Denver e muitas outras cidades, além de atividades no México em solidariedade aos cidadãos emigrados.
Em todo o país há sinais de que os imigrantes estão faltando ao trabalho, apesar de várias organizações terem se oposto à greve de um dia.
Em Nova York, os manifestantes formaram "correntes humanas" em vários pontos da cidade. No Queens, centenas, inclusive estudantes, formaram uma fila de três quarteirões --em ambas as calçadas-- agitando bandeiras norte-americanas e latino-americanas e carregando cartazes com dizeres como "Somos americanos" e "Direitos completos a todos os imigrantes".
Um projeto aprovado em dezembro na Câmara dos Deputados criminaliza a imigração ilegal, o que desencadeou enormes manifestações que tiram das sombras muitas pessoas que antes viviam à margem da sociedade norte-americana.Foto: Reuters
Em todo o país, várias fábricas de processamento de carnes pararam, mas seus donos se prepararam aumentando a produção no fim de semana e disseram que não haverá impacto econômico.
No vale de Salinas, na Califórnia, considerada a "horta" dos EUA, os campos ficaram vazios.
- Tomara que isso nos dê a oportunidade de obter status legal - disse o mexicano Martinez, 26, que faz trabalhos braçais em uma fazenda orgânica, a US$ 7 por hora. - Pagamos impostos e fazemos trabalhos importantes que os outros não querem.
Cerca de um quarto dos habitantes da Califórnia, o Estado mais populoso dos EUA, nasceu no exterior.
O Conselho Nacional de Cadeias de Restaurantes disse que o boicote pode afetar seus membros.
- Infelizmente, esses boicotes trabalhistas têm o potencial de algemar um setor que vem se empenhando tanto pela reforma da imigração - disse o porta-voz Scott Vinson.
POUCO IMPACTOFoto: Reuters Oren Levin-Waldman, especialista em emprego e renda no Metropolitan College, de Nova York, disse que o principal impacto do protesto será o inconveniente à população, mas que uma manifestação de apenas um dia terá pouco impacto econômico, apesar da importância dos imigrantes na força de trabalho.
- A verdadeira questão a respeito da paralisação do trabalho imigrante é que o país depende dos trabalhadores ilegais para manter os preços baixos - afirmou.
Pesquisas recentes sugerem que a maioria dos norte-americanos apóia um projeto em discussão no Senado, que cria um programa de "trabalhadores temporários" que abre portas à obtenção de cidadania.
Mas, segundo pesquisa NBC/Wall Street Journal feita na semana passada, apenas 17 por cento dos entrevistados consideravam que as manifestações de segunda-feira ajudariam a causa dos imigrantes, enquanto 57 por cento acham que seriam prejudiciais.
Temendo um resultado negativo, muitas entidades ligadas aos imigrantes se opuseram à greve. Mas seus defensores diziam que o protesto é necessário para convencer o presidente George W. Bush e o dividido Congresso a pararem com suas disputas eleitorais e aprovarem o projeto do Senado.Foto: Reuters Estima-se que haja cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais nos EUA e que a cada ano 500 mil cruzem a fronteira a partir do México. Eles costumam receber salários mais baixos, normalmente na agricultura, na construção civil, em restaurantes, fábricas de alimentos, portarias de prédios e muitas outras atividades.
- Somos todos perdedores se continuarmos jogando este jogo sinistro de condenarmos um segmento da população a viver e trabalhar em condições de escravidão moderna - disse Juan José Gutiérrez, diretor do Movimento Latino USA.
Em Chicago, o professor Francisco Palomo, 46, disse ter faltado ao trabalho para protestar contra o restritivo projeto do Câmara, que pune quem ajudar imigrantes clandestinos:
- Não quero ser criminalizado. Se eu ajudar alguns caras, se eu der abrigo, isso é delito?
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