Os protestos no norte da África se originaram, em parte, da crise econômica que atinge a região, mas as manifestações só foram possíveis graças ao engajamento público e à acensão das novas tecnologias.
"No caso do Egito e da Tunísia tratam-se de movimentos espontâneos, autênticos. São movimentos que nasceram no seio das populações", explica Andrew Traumann, professor de Relações Internacionais da UniCuritiba.
Os protestos também indicam uma mudança do pensamento árabe, que enclausurado sob a égide de regimes totalitários, na sua maioria, nunca deu espaço às manifestações populares.
"Acho que está surgindo uma percepção dentro do mundo árabe de que o povo tem a capacidade e os meios de influenciar o processo político. Até hoje isso era visto como algo impossível de acontecer. Eles se sentiam oprimidos e achavam que não teriam como se manifestar", avalia Heni Ozi Cukier, cientista político, professor de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina (Fasm) e mestre em Conflitos Internacionais.
Exemplo tunisiano
De acordo com Cukier, o que aconteceu na Tunísia mostrou que é possível derrubar um ditador simplesmente com as pessoas se mobilizando e se engajando no processo.
Uma opinião compartilhada também por Traumann. "O que está ocorrendo, aparentemente, é um efeito dominó. A partir do momento em que os egípcios viram o levante na Tunísia até porque o Ben Ali [ex-presidente] também já estava no poder há muitos e muitos anos eles pensaram: se os tunisianos podem a gente também pode", afirma o professor da UniCuritiba.
As razões que fizeram eclodir os protestos e manifestações no Egito merecem especial atenção. "No caso específico do Egito, nós temos uma massa de pessoas, jovens abaixo de 25 anos, que se formou, tem um diploma universitário, mas não conseguem emprego. E isso, logicamente, gera uma revolta. Por quê? Porque eles não conseguem emprego dentro do seu próprio país e como as universidades locais não são de alto nível, eles também não conseguem emprego fora do país. Não há empregos suficiente porque se trata de uma economia não desenvolvida", conclui Traumann.