Centenas de haitianos realizaram uma manifestação no domingo em um subúrbio da devastada capital Porto Príncipe, acusando uma prefeita local de praticar corrupção e estocar indevidamente alimentos entregues por grupos humanitários depois do terremoto de dezembro, segundo testemunhas.
O protesto do bairro de Petionville foi um dos maiores desde a tragédia que deixou mais de 200 mil mortos e 1 milhão de desabrigados, e reflete a irritação ainda latente entre sobreviventes por causa de problemas na operação internacional de ajuda.
Agências humanitárias de todo o mundo entregaram milhões de toneladas de arroz e outros alimentos no Haiti, mas a distribuição aos famintos e desabrigados tem sido lenta e às vezes caótica.
Batendo em baldes plásticos e agitando galhos de árvores e palmeiras, os manifestantes passaram por escombros do terremoto -- e por uma mulher que se banhava numa calçada -- em direção à prefeitura de Petionville, onde acusaram a prefeita Lydie Parent de desviar a ajuda recebida.
"Estou faminta, estou morrendo de fome. Lydie Parent fica com o arroz e não nos dá nada. Nunca vão distribuir lá onde moramos", disse uma manifestante.
Parent não foi localizada para se manifestar.
A maioria dos manifestantes era de mulheres. As agências humanitárias preferem entregar comida a elas para impedir que os homens dominem os locais de distribuição, e porque acreditam que as mulheres têm maior tendência a compartilhar o alimento recebido com familiares.
Alguns haitianos têm atribuído os problemas na operação humanitária à corrupção. Sacos de arroz doado já apareceram em feiras locais, e funcionários humanitários dizem que é inevitável que parte da ajuda acabe no mercado negro. O Haiti é considerado o décimo país mais corrupto do mundo, segundo o levantamento anual da entidade Transparência Internacional.
O presidente René Préval, que pouco aparece em público desde a tragédia, também é alvo de protestos. Alguns muros da cidade apareceram com dizeres como "Abaixo Préval."
"Somos todos vítimas. Este é um país caído. Ele perdeu seus filhos, maridos, lares e família", disse o manifestante Agustin Michou.
Os manifestantes gritavam que "se a polícia atirar em nós, vamos queimar tudo." Em geral, porém, o evento foi pacífico, e a polícia não interveio.
No fim de semana, recebendo uma delegação oficial dominicana, Préval estimou que o terremoto tenha matado 250 mil pessoas e destruído 250 mil casas.