Manifestantes bloquearam o principal edifício do governo nesta segunda-feira (2), tentando forçar com uma greve geral o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, a deixar o cargo, depois que centenas de milhares de pessoas protestaram contra sua decisão de abandonar um pacto de integração do país com a União Europeia.
Manifestações no sábado e no domingo, nas quais houve confrontos violentos com a polícia, atraíram cerca de 350 mil pessoas, no maior protesto público no ex-Estado soviético desde a chamada "Revolução Laranja" contra irregularidades políticas e fraude eleitoral nove anos atrás.
O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, acusou a oposição de planejar a tomada do Parlamento, enquanto Yanukovich apelava por calma, dizendo que os protestos têm de ser pacíficos e de acordo com a lei.
"Qualquer paz é melhor do que uma guerra boa", afirmou Yanukovich em sua primeira declaração sobre a agitação no fim de semana. "Todo mundo tem de respeitar as leis de nosso Estado."
No entanto, num indício de que considera as condições de segurança sob controle, Yanukovich anunciou que manterá seus planos de viajar na terça-feira para a China, onde buscará empréstimos e investimentos para evitar uma crise de dívida.
Sua decisão de abandonar um pacto comercial com a União Europeia e, em vez disso, buscar relações mais estreitas com a Rússia desencadeou fortes paixões em um país onde a maioria das pessoas sonha em se unir à tendência da maioria na Europa e escapar da órbita de Moscou.
A agitação decorrente dessa decisão abalou os mercados financeiros da Ucrânia, evidenciando o frágil estado de sua economia.
O banco central do país foi forçado a intervir para sustentar a moeda local, a hryvnia, e ameaçou tomar mais medidas, numa amostra da vulnerabilidade da Ucrânia num momento em que busca para o ano que vem mais de 17 bilhões de dólares para pagar as despesas com gás e o custeio da dívida.
O presidente russo, Vladimir Putin, culpou pessoas de fora pelos protestos, que ele disse serem uma tentativa de derrubar governantes legítimos na Ucrânia.
"Isto me lembra mais um pogrom do que uma revolução", disse Putin a repórteres durante uma visita à Armênia..
Mas as manifestações na capital se mantêm.
"Nós não temos outra opção a não ser defender a nós e aos ganhos que conseguimos", disse Taras Revunets, na prefeitura de Kiev, ocupada no domingo por centenas de manifestantes.
Com muita gente temendo riscos para suas poupanças, o banco central procurava evitar os saques motivados por pânico.
Num comunicado em vídeo, o presidente da instituição disse que o banco não vai introduzir restrições financeiras de nenhum tipo. "Eu peço que todos tenham confiança no sistema bancário e mantenham suas economias", disse Ihor Sorkin.
Dividida
A Ucrânia está dividida entre os que veem a estabilidade em laços mais estreitos com a Rússia e os que olham para o oeste e veem um futuro mais próspero com a União Europeia.
Desde sua eleição em fevereiro de 2010, Yanukovich vem procurando contemporizar com os dois lados, garantindo aos ucranianos que buscará relações mais próximas com a União Europeia ao mesmo tempo em que administra as ligações com a Rússia.
Mesmo alguns aliados dele ficaram chocados com o modo abrupto com que seu governo anunciou que estava suspendendo os trabalhos para um pacto há muito tempo aguardado com a UE em favor da renovação dos laços econômicos com a Rússia. Imagens da polícia batendo nos manifestantes no fim de semana aumentaram a oposição da opinião pública contra ele.