Manifestantes contrários ao governo da Bolívia voltaram a fechar, na madrugada desta sexta-feira, a fronteira com o Brasil, no departamento boliviano de Santa Cruz. Há mais de 12 horas, apenas pedestres são autorizados a passar pelo local. A região é dominada por grupos de oposição ao presidente boliviano, Evo Morales. A violência dos choques entre opositores e partidário do governo já deixou ao menos oito mortos esta semana, prejudicou o fornecimento de gás natural ao Brasil e levou os países vizinhos a oferecer ajuda a Morales, que rejeitou o apoio. A crise também envolve agora o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que expulsou o embaixador americano de Caracas, repetindo o gesto de Morales e defendendo a solidariedade com a Bolívia. Os EUA reagiram expulsando o embaixador venezuelano, e também congelaram bens de altos funcionários venezuelanos no país, acusando-os de manter vínculos com rebeldes colombianos.
Em tentativa de contornar a situação, o governo boliviano ofereceu nesta sexta-feira a abertura de diálogo sem impor condições com Mario Cossío, prefeito de oposição de Tarija, o principal distrito de gás do país. Em pauta, reforma constitucional, autonomias e redistribuição de um imposto petrolífero. Três outros governadores contrários às reformas defendidas por Morales negaram-se a conversar com ele e culparam o presidente pela onda de violência e a situação caótica instalada no setor de gás. O governo declarou luto nacional de 24 horas pelas mortes ocorridas no departamento de Pando.
Integrantes do governo disseram nesta sexta-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está "muito preocupado" com a situação, mas que, por enquanto, o governo brasileiro espera que o governo Morales aceita a ajuda de Brasília. O fechamento da fronteira com o Brasil deve ser mantido por três dias, até a meia-noite de domingo.
Montes de areia fecham a única estrada de acesso ao município brasileiro de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Os manifestantes disseram estar vigiando as estradas próximas para evitar que o transporte possa ser feito por rotas alternativas. A ferrovia que segue para a Bolívia por Santa Cruz também foi bloqueada. Ao menos 150 vagões estão parados.
Cerca de 30 manifestantes se revezam no controle das estradas. A fronteira com o Brasil em Santa Cruz já havia sido fechada na última segunda-feira. A maioria dos moradores da região faz oposição ao governo Morales. No referendo sobre autonomia de Santa Cruz, em maio, cerca de 90% das pessoas votou a favor da autonomia. O governo boliviano ofereceu diálogo aos opositores.
Governo tem plano para retirar brasileiros de Santa Cruz
A maior parte dos cerca de 450 mil brasileiros que vivem em território boliviano está em Santa Cruz. A escalada de violência entre grupos pró e contra o governo Morales levou o governo do Brasil a pensar num plano B para retirar brasileiros do país vizinho, caso o quadro se deteriore ainda mais. Os protestos na capital, Santa Cruz, se estenderam por toda a madrugada dessa sexta-feira.
Sob a alegação de que não quer estrangeiros envolvidos em uma questão interna, o presidente da Bolívia dispensou a ajuda de representantes dos governos brasileiros, argentino e colombiano, que se preparavam para viajar a La Paz. Ainda assim, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência brasileira, Marco Aurélio Garcia, disse que o Brasil não vai tolerar qualquer ruptura na ordem institucional da Bolívia.
A reação de Chávez à crise foi mais forte. Depois de dizer que interviria na Bolívia se houver ameaça de golpe contra Morales, o presidente da Venezuela anunciou que o embaixador americano, Patrick Duddy, tinha 72 horas para deixar o país, alegando que os EUA etariam por trás de um plano para matá-lo e também operariam contra o presidente boliviano. Morales já havia expulsado o embaixador americano de La Paz.
- Vão para o inferno, Ianques de merda, nós somos pessoas dignas. Vão para o inferno cem vezes! - disse Chávez em um discurso repleto de palavrões, diante de milhares de partidários do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), reunidos em frente ao palácio do governo.
As Forças Armadas da Bolívia rejeitaram a "intromissão" de Chávez. Ele também ameaçou cortar a exportação de petróleo para os EUA. A violência na Bolívia atingiu uma empresa formada pela Petrobras e chegou a reduzir a metade o envio de gás para o Brasil.
Na tarde de quinta-feira, o fornecimento foi restabelecido. Após interrupção de mais de sete horas, o serviço voltou a operar com quase toda a sua capacidade às 15h (horário de Brasília). O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, previu que o fornecimento deve se normalizar dentro de dois ou três dias.
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