A primeira vez em que Essam el-Erian foi para a cadeia, ele tinha 27 anos. No domingo passado ele deixou a prisão pela oitava vez, aos 57.
O crime que levou o médico a ser encarcerado em cada vez foi o fato de integrar a Irmandade Muçulmana, o mais influente e bem organizado movimento de oposição islâmica no Egito, temido há anos pelo presidente Hosni Mubarak, por Israel e pelos EUA.
Os tribunais egípcios sempre rejeitaram os pedidos da Irmandade de ser reconhecido como partido político, alegando que a Constituição proíbe partidos baseados na religião.
Agora a situação não poderia estar mais diferente do que esteve nas três últimas décadas, quando membros da Irmandade foram reprimidos, presos, julgados em tribunais militares e repudiados pelo governo egípcio.
Depois dos últimos dias turbulentos de revolta popular contra Mubarak, agora é o governo quem está procurando a Irmandade Muçulmana para discutir o futuro do Egito.
O vice-presidente Omar Suleiman reuniu-se no domingo com grupos de oposição, em conversações das quais, pela primeira vez, a Irmandade tomou parte.
Finalmente o grupo antes proibido está bem posicionado para exercer papel de destaque, enquanto o governo de Mubarak luta para sobreviver depois de 30 anos no poder.
"Venho entrando e saindo da prisão desde 1981", disse Erian, figura líder na Irmandade. "Já passei por todas as formas de tortura. Fui pendurado por cordas, espancado, eletrocutado e deixado ao relento, no frio, durante horas. Mas o tratamento melhorou ao longo dos anos, também por causa de minha idade."
"Tudo isso só fortaleceu minha determinação. O regime de Mubarak existe para monopolizar não apenas o poder, mas a riqueza."
Erian foi um dos 34 membros da Irmandade que saíram da prisão de Wadi Natroun no domingo passado depois de parentes invadirem a prisão, dominarem os guardas e libertar os prisioneiros, durante os protestos que saíram do controle em todo o país.
Poder por meio das urnas?
A Irmandade tem estado ativa no levante. Mas décadas de repressão a ensinaram a ficar em segundo plano, e o grupo está ansioso para dar a impressão de que os islâmicos são apenas uma parte de um movimento mais amplo de protesto.
O levante popular contra Mubarak soou alarmes em Israel e nos EUA, que temem que o movimento islâmico possa chegar ao poder pelas urnas e realizar seu objetivo último de implementar a lei sharia no Egito.
É fato que a Irmandade Muçulmana é hostil a Israel e à política dos EUA na região. O grupo tem vínculos históricos com o movimento islâmico palestino Hamas e compartilha a posição deste de luta armada contra Israel.
Mas, diferentemente dos grupos militantes que combateram o governo de Mubarak nos anos 1990, a Irmandade tem uma liderança em grande maioria laica, formada por profissionais liberais modernos: engenheiros, médicos, advogados, acadêmicos e professores. A base do grupo é formado por pessoas da classe média e baixa classe média.
Até agora os governos ocidentais têm evitado contatos diretos com a Irmandade, temendo provocar o repúdio do governo. Mas eles não puderam classificar o grupo, que renunciou à violência nos anos 1950, como organização "terrorista".
Em um ambiente político tão desfigurado, é impossível avaliar a popularidade real da Irmandade. Nas eleições parlamentares de 2005, cuja fase inicial foi relativamente justa, a Irmandade conquistou 88 das 165 vagas que disputou. Nas fases finais da eleição, a polícia impediu a população de votar.
A repressão não conseguiu prejudicar a campanha do movimento de ampliar sua base popular através de trabalhos sociais e de caridade.
A ideologia da Irmandade foi penetrando constantemente nas escolas, famílias, na mídia, em livrarias e até em lojas de roupas. Boa parte desse ressurgimento islâmico se deve ao deslocamento social, às dificuldades econômicas e à frustração política.
- Saída de Murabak geraria "instabilidade", afirma vice
- Reunião com governo foi pouco conclusiva, diz oposição
- Múmias do Egito estão a salvo, diz arqueologista-chefe
- Para Dick Cheney, Mubarak é "bom amigo"
- Vice-presidente do Egito demonizou Irmandade Muçulmana
- Governo do Egito aceita criar comissão de reforma
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink