A opositora venezuelana María Corina Machado retornou na terça-feira (25) de Lima para seu país acompanhada de três legisladores peruanos, perante os quais disse aos jornalistas sentir-se "mais deputada do que nunca", depois que o presidente do parlamento, Diosdado Cabello, anunciou que ela havia perdido seu cargo.
"Nunca fui tão deputada quanto agora. Sou mais deputada do que nunca, e continuarei atuando dentro e fora da Assembleia Nacional (AN, unicameral)", declarou ela ao chegar ao aeroporto de Maiquetía, em Caracas.
A opositora rotulou de "nula e inconstitucional" o processo contra ela colocado pelo presidente da Assembleia Nacional, o governista Diosdado Cabello.
"É uma atrocidade que cometeu com suas declarações o senhor Cabello, que são absolutamente nulas e inconstitucionais", ressaltou, enquanto seus seguidores cantavam o hino nacional e gritavam palavras de rejeição ao governo no aeroporto.
Cabello anunciou ontem a perda do mandato de deputada ao considerar que, ao ter sido nomeada embaixadora suplemente do Panamá para participar da sessão de sexta-feira passada da Organização dos Estados Americanos (OEA), ela transgrediu o artigo 191 da Constituição.
Esse artigo assinala que "os deputados ou deputadas da Assembleia Nacional não poderão aceitar ou exercer cargos públicos sem perder sua posse, salvo em atividades docentes, acadêmicas, acidentais ou assistenciais, sempre que não representem dedicação exclusiva".
María Corina Machado tentou no último dia 20 participar da sessão do Conselho Permanente da OEA credenciada pelo Panamá para apresentar denúncias da "repressão" que, diz, existe na Venezuela contra manifestantes que participam de protestos contra o governo do presidente Nicolás Maduro.
A Venezuela está imersa em uma onda de protestos contra o governo, alguns dos quais derivaram em fatos de violência que ocasionaram a morte a 35 pessoas.
Na OEA "quiseram censurar o povo venezuelano; pretendiam nos calar e esse silêncio temporário retumbou no mundo inteiro", acrescentou ela junto aos congressistas peruanos Martín Belaúnde, Cecilia Chacón e Luis Galarreta.
"Nosso firme apoio moral à deputada Maria Corina para que não seja objeto de intervenções ou ações arbitrárias. Queremos que se respeite seu privilégio parlamentar e nós viemos aqui em solidariedade", declarou Galarreta no aeroporto caraquenho.
Perguntado sobre o dito por Cabello ele respondeu: "Me parece algo inconcebível. Não posso intervir na política venezuelana, mas me parece inconcebível e o que se chama absoluta, repito, absoluta denegação de Justiça a condenação a uma pessoa sem qualquer processo".