Marinheiros britânicos detidos pelo Irã podem vender sua história à imprensa

Procedimento normalmente é proibido no país. Por ser um caso excepcional, militares podem receber até R$ 1 milhão por entrevistas.

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No dia em que a capa do tablóide britânico "The Sun" estampou sua capa com uma entrevista da única mulher entre os militares britânicos que ficaram quase duas semanas presos no Irã, o governo voltou atrás. Nenhum outro militar britânico terá autorização para vender suas histórias à imprensa até ser realizada uma revisão das normas que regulamentam essas permissões, anunciou nesta segunda-feira (9) o ministro da Defesa do Reino Unido, Des Browne.

Quero ter certeza de que os responsáveis por tomar essas decisões difíceis tenham uma orientação clara para o futuro", disse Browne, em suas primeiras declarações sobre a polêmica devido à autorização dada aos 15 militares capturados pelo Irã para contar suas experiências em troca de dinheiro.

"Até o momento, nenhum outro militar terá autorização para falar com a imprensa sobre suas experiências em troca de dinheiro", afirmou em comunicado.

A polêmica gerada por causa da autorização do governo britânico aos 15 militares capturados pelo Irã para vender sua história à imprensa se intensificou nesta segunda, após a divulgação das primeiras revelações exclusivas da única mulher do grupo, Faye Turney, e de outro militar, Arthur Batchelor.

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A militar concedeu entrevistas ao jornal sensacionalista "The Sun" e à televisão "ITV" nas quais relata seus 13 dias de cativeiro e pelas quais teria recebido, segundo o periódico "The Guardian", cerca de 100 mil libras(cerca de R$ 400 mil), quatro vezes mais que seu salário anual.

Em seu comunicado, Browne reconheceu o "dilema" vivido pela Marinha britânica na semana passada.

Segundo sua opinião, os oficiais que tinham a responsabilidade de cuidar dos jovens detidos perceberam que a pressão sobre eles e suas famílias "tornaria inevitável" o fato de que alguns deles aceitassem ofertas para contar sua história em troca de dinheiro.

"O dilema enfrentado pela Marinha era este: deveria impedi-los de aceitar um pagamento, admitindo que alguns deles achariam formas para contar sua experiência de outro modo, sem o apoio e a assessoria de seu serviço, e, portanto, com um risco para eles e também para a segurança operacional?", se perguntou Browne.

"Ou a Marinha deveria aceitar que neste caso excepcional e particular, e no contexto atual dos meios de comunicação, deveria permitir-lhes que contassem sua história precisamente para ficar próxima a eles, mas aceitando como conseqüência que haveria um pagamento?", acrescentou.

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Para o ministro, todos os envolvidos neste caso reconheciam que não se chegou a "um resultado satisfatório", e que deviam ser tiradas lições da revisão ordenada pelo seu departamento sobre as normas que regulam essas permissões, "sua clareza" e "se são apropriadas para o contexto atual dos meios de comunicação".

A decisão de autorizar a venda de histórias à mídia foi fortemente criticada no Reino Unido, principalmente pelos familiares dos soldados britânicos mortos no Iraque, pelos veteranos e pela oposição conservadora.

Entrevistas vendidas

Dois dos 15 marinheiros e fuzileiros navais britânicos detidos pelo Irã disseram em entrevistas publicadas nesta segunda-feira (9) que temeram sofrer violência sexual e morte durante o tempo em que ficaram detidos.

A marinheira Faye Turney, a única mulher do grupo, disse que os iranianos perguntaram o que ela achava de morrer pelo país e advertiram que talvez ela nunca mais visse sua filha.

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Turney, de 25 anos, disse que ouviu madeira sendo cortada e batidas de martelos em pregos perto de sua cela, e que uma mulher tirou suas medidas com uma fita. A marinheira concedeu uma entrevista ao jornal britânico "The Sun".

"Eu estava convencida de que estavam fazendo meu caixão", disse ela ao jornal. Turney contou também que teve medo de ser estuprada.

Arthur Batchelor, de 20 anos, o mais jovem do grupo, disse que "chorou como um bebê" em sua cela depois que foi vendado, algemado e insultado pelos guardas.

"Fiquei absolutamente exausto pela pressão", disse ele ao jornal "Daily Mirror". "Em alguns momentos temi ser violentado ou morto."

Os 15 marinheiros britânicos foram capturados por forças iranianas no Golfo Pérsico e passaram 13 dias presos. O Irã diz que eles estavam em suas águas, o que a Grã-Bretanha nega.

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Símbolo da crise

Turney, que tem uma filha de três anos e dará uma entrevista em horário nobre na televisão nesta segunda-feira, disse que foi mantida isolada por cinco dias.

Ela tornou-se símbolo da crise ao ser mostrada na televisão iraniana com a cabeça coberta e fumando, nervosa.

O Irã divulgou três cartas que teriam sido escritas por Turney.

"Quando quiseram que eu escrevesse o que foi escrito sobre as tropas britânicas e americanas, me senti como uma traidora", disse Turney na entrevista à ITV.

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A televisão iraniana mostrou no domingo (8) novas imagens dos 15 britânicos jogando tênis de mesa e xadrez e vendo futebol na televisão, em aparente contradição à descrição do tratamento que receberam. Imagens anteriores mostraram os 15 sorrindo e aparentemente tranqüilos.

O "Sun" não disse qual teria sido a quantia paga pela entrevista com Turney. Mas o jornal "The Guardian" disse que a marinheira fez um acordo conjunto com o "Sun" e com a ITV por quase 100 mil libras (197.400 dólares), quatro vezes seu salário anual.

Críticas

A decisão do Ministério da Defesa britânico de permitir que o grupo venda suas histórias provocou furor no país.

Políticos de oposição e comentaristas de defesa criticaram a decisão do ministério, dizendo que os militares estão sendo usados em guerra de propaganda, tática igual à usada por Teerã.

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O ministério disse que tomou a decisão porque há muito interesse público no caso.

"Acho que todos receberam ofertas. Estou feliz por contar a verdade porque recebemos algumas críticas", disse o tenente Felix Carman, um dos 15 capturados, em entrevista à rede BBC, pela qual não recebeu dinheiro.

Até agora, somente Turney e Batchelor venderam suas histórias, provocando tantas críticas que talvez os outros desistam.